sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Vatileaks" - por Afonso Corte-Real da JMS de Lisboa


A Igreja foi fundada sobre a rocha de Pedro, portanto, ninguém poderá destruí-la. A história é mestra da vida também neste campo. A Igreja sofreu muitos ataques ao longo da sua história milenar e saiu sempre triunfante, porque está fundada sobre a rocha de Pedro e quem guia a Igreja, quem a ilumina e quem lhe dá força é o espírito de Cristo, é o Espírito Santo.
Cardeal D. José Saraiva Martins

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo
No passado dia 17 de Maio, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi publicou em Itália um livro intitulado Sua Santidade, as cartas secretas de Bento XVI. Nesse seu volume Nuzzi, já autor de um livro sobre o Instituto das Obras Religiosas (IOR) também chamado “Banco do Vaticano”, revela ao público várias cartas privadas endereçadas ao Santo Padre. Os conteúdos desses documentos são temas quentes da actualidade da Igreja: a resposta aos recendes casos de abusos de padres, os escândalos sexuais do padre mexicano Marcial Maciel fundador dos Legionários de Cristo, relatórios políticos, enfim, inúmeros assuntos tristes e difíceis para a Igreja... Podem imaginar que a publicação de documentos deste carácter é um crime sem precedente. Como é que alguém pode ter acesso a tais cartas? Quem é que traiu desta maneira a confiança do Papa? Ao longo deste ano tem havido sucessivas fugas de informação para fora dos muros do Vaticano. Isso levou a que o Papa nomeasse uma comissão especial de cardeais para investigar estes casos e acabar com a divulgação ilícita de informação privada. Graças a Deus, na passada quarta-feira dia 23 de Maio viram-se finalmente resultados dessa investigação. A Gendarmeria Vaticana (a polícia do Vaticano), deteu no Vaticano Paolo Gabriele, mordomo pessoal de Bento XVI, pois foram encontrados em sua casa uma série de documentos privados do Santo Padre. Sabia-se que a ameaça vinha de dentro do Vaticano, mas o facto de um culpado estar tão próximo do Papa é desconcertante. É por isso que a magnitude deste caso ultrapassa em muito a dos anteriores... O arcebispo Angelo Becciu, o número 3 do Vaticano, explica bem a gravidade dos acontecimentos: “o ataque que [o Papa] sofreu é muito violento”, “a publicação de cartas roubadas é um ato imoral de inédita gravidade”, “documentos da sua casa, papéis que não são simples correspondência privada mas informações, reflexões, aberturas de consciência e até alguns desabafos que recebe unicamente devido ao seu ministério”, “não se trata unicamente de uma violação, já em si mesma gravíssima, da reserva a que qualquer pessoa tem direito, mas por se tratar de uma vil afronta à relação de confiança entre Bento XVI e quem se lhe dirige”. A detenção do mordomo é apenas o início desta “limpeza” e procuram-se agora mais culpados. Esperemos que possam ser detidos e conduzidos às mãos da justiça todos aqueles que querem mal ao Papa e à Igreja.
Como se não bastasse à Igreja ter de sofrer ataques daqueles que estão de fora, agora também tem que se preocupar com os que fazem parte dela! Que tristeza. Até agora só leigos é que foram investigados e esperemos que assim continue. Imaginem o que não diriam da Igreja se se descobrisse que algum prelado está envolvido neste caso... Nestas situações temos que ter sempre cuidado com o que ouvimos pois sabemos que a imprensa aproveita a situação para especular e para difamar a Santa Sé. Enquanto num jornal se publica uma notícia na segunda-feira a dizer que um cardeal italiano está envolvido, no outro diz-se na terça-feira que é uma laica que trabalha no Vaticano a cabeça da operação. Todos os dias ouvimos mais disparates. E isso só complica as coisas... O porta-voz da Santa Sé (o único que faz comunicações oficiais do Vaticano), o Padre Frederico Lombardi, já veio a público desmentir todas estas especulações e pedir aos jornalistas para não espalharem notícias infundadas. O próprio Papa, que raramente se manifesta, pronunciou-se durante a audiência geral de quarta-feira dia 30 de Maio do seguinte modo: “os acontecimentos ocorridos nestes dias acerca da Cúria e dos meus colaboradores trouxeram tristeza ao meu coração”. Apesar disso, o Papa continuou reafirmando a confiança que tem nos seus colaboradores e professando aquilo que é a sua fé no que é para nós um gesto consolador da vontade do nosso Vigário: “nunca se ofuscou a firme certeza de que, apesar da fraqueza do homem, das dificuldades e das provas, a Igreja é guiada pelo Espírito Santo, e o Senhor nunca lhe fará faltar a sua ajuda para sustentá-la no seu caminho”. Na mesma audiência, o Santo Padre afirmou-se desiludido com a imprensa que estava a dar uma imagem falsa da Santa Sé através de rumores “exagerados” e “gratuitos”.
Para concluir, gostava de salientar três coisas que podemos retirar disto tudo. A primeira delas é que, quando o Papa é atacado pessoalmente, somos nós os católicos que temos que sair em sua defesa! Ao longo do seu pontificado, não foram raros os ataques pessoais a Bento XVI e reparem que graças a Deus o Papa nunca se defendeu a ele próprio! Demonstra que está consciente do que é a sua missão. Não compete ao Sucessor de Pedro defender-se diante do mundo. Somos nós, o Povo de Deus, os fiéis, que temos que oferecer o peito às balas para defender aquele que é o nosso Pastor Universal. A segunda é que temos que rezar mais, muito mais por todos os padres e bispos! Rezamos sempre pelo Papa, o que nunca deve deixar de acontecer, mas devemos também ter tempo para rezar pelos nossos outros pastores. Eles também vivem no mundo e precisam de apoio. Eles também têm que ser fortes e iluminados pelo Espírito Santo para não caírem nas tentações. Neste específico caso, rezemos para que os sacerdotes tenham sempre a humildade e a sabedoria suficiente para se manterem fora destes ataques à Igreja. Finalmente, temos também que rezar mais uns pelos outros. Se agora vemos que até os crentes se voltam contra a própria Igreja onde iremos parar? Rezemos por Paolo Gabriele e por sua família, rezemos por Gianluigi Nuzzi o autor do livro que provocou todo este processo, rezemos pelos jornalistas para que sejam sempre fiéis à sua missão de informar com verdade e caridade. A purificação da Igreja começa pela oração e pela penitência.
Deus guarde e abençoe o Papa!
Nos cum prole pia, benedicat Virgo Maria

Fonte: http://www.porta-da-europa.eu

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