segunda-feira, 5 de julho de 2010

Padre Kentenich e os tempos antes da ordenação sacerdotal - II



O problema da verdade e as lutas de fé

A “análise metafísica” (doutrina da essência das coisas) de José Kentenich desenvolve-se progressivamente e transforma-se num autêntico e angustiante “anseio pela verdade”. Por isso, ele se caracteriza como “fanático da verdade”. Estes conceitos que usam mostram que não domina o anseio pela verdade, mas que, de certo modo, é dominado por ele. Sobre o cenário de fundo desta predisposição e desta evolução, um incidente, aparentemente insignificante, podia assumir consequências graves e desencadear uma série de perguntas. No início do noviciado, encontra um coirmão mais velho, cujas capacidades intelectuais despertam o seu interesse e apreço e com o qual faz amizade. No entanto, descobre nele uma fraqueza, devida aos ricos dotes de sua fantasia. Este coirmão tendia a exagerar e a faltar à verdade. Numa conversa em Milwaukee, Padre Kentenich conta a estudantes de teologia que aquele coirmão sabia falar brilhantemente sobre coisas dogmáticas, mas também era vítima das mentiras da sua fantasia. Tal facto despertava-lhe dúvidas:

“Por amor de Deus, ele é capaz de falar brilhantemente de Dogmática, mas acreditará no que está dizendo? Acreditará que o que diz é verdade?
Padre Kentenich explica assim o que se passava no seu interior:
“A isto se juntava minha singular atitude ante a vida. Se a pessoa sofre, justamente por causa desse tipo de problemas, se é um fanático da verdade, que não só defende, em todo o lugar, até ao extremo, a verdade e está pronto a dar tudo por ela, mas que, além disso, quer ter em tudo uma segurança metafísica, está sempre inclinada a observar a vida. E as coisas insignificantes que acontecem a todos nós, acarretavam para mim, humanamente falando, uma série de problemas.”

As primeiras dúvidas emergem, não a partir da doutrina, nem dos estudos, mas a partir da vida. O problema da verdade, que surge na sequência destas lutas, não sobrecarrega somente a razão, como problema puramente intelectual, mas abrange toda a pessoa de José Kentenich. Mergulha no estudo. Os problemas tratados na filosofia moderna, tocam exactamente, o ponto que mais tarde, designa como “cerne” de suas lutas: “a verdade existe? E como pode ser conhecida?”
O objecto das confrontações não era, “de modo nenhum, uma verdade isolada”, afirmará mais tarde, “a questão era a possibilidade em si de conhecer a verdade: Existe, afinal, uma verdade? Tratava-se, portanto, do cepticismo que, no tempo da minha juventude, estava muito divulgado no mundo dos intelectuais”.
O Padre Kentenich, anos mais tarde confessará:

“Eu sou um daqueles que tiveram muito que lutar na vida, nos anos da juventude e no meu caso foram lutas de fé. O bom Deus deu-me uma inteligência extremamente aguda, por isso foi-me tão difícil acreditar em tudo”.

Noutra ocasião, refere numa conferência:
“Sabem, as luta da minha juventude foram difíceis, foram terríveis lutas de fé. E estas vão bem mais fundo que as lutas morais, porque abalam o fundamento”.
O caminho de José Kentenich durante os estudos superiores em Limburgo foi marcado por esta imensa carga física e psíquica. Naqueles anos, a experiência de solidão atinge um grau dificilmente imaginável. Entre os estudantes não encontra um interlocutor capaz de compreender a problemática que o ocupa. Mais tarde contará que, após uma aula, alguns colegas zombavam da matéria de filosofia moderna que fora apresentada. Ele se assustou, porque tomou consciência de que não haviam captado a gravidade da situação. Entre os professores, relativamente jovens e de formação insuficiente, o Pai e Fundador também não encontrava com quem discutir suas perguntas e problemas.

“Em toda a minha juventude tive que travar minhas lutas sozinho. Não havia ninguém que pudesse mostrar-me algo”.

Como será que todos estes problemas foram resolvidos?
Excerto do livro "Os anos ocultos do Padre Kentenich". 
(Continua)

Fami e Paulo

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...