terça-feira, 13 de julho de 2010

Homilia do Sr. Bispo de Aveiro na Missa do centenário da ordenação do Padre Kentenich


Publicamos hoje na integra a homilia do Sr. D. António Francisco, Bispo de Aveiro, na celebração do centenário da ordenação do Padre José Kentenich, realizada na Sé de Aveiro no dia 10 de Julho de 2010.

"1.Centramos nesta Eucaristia a peregrinação que nos conduziu desde o Santuário de Nossa Senhora, a Mãe Admirável, a esta Sé Catedral de Aveiro. Habitualmente os Santuários são destinos de peregrinação. Assim acontece ao longo de todo o Ano com o santuário de Schoenstatt, verdadeiro centro de espiritualidade mariana, eucarística e vocacional.
Hoje é a família de Schoenstatt, sacerdotes, irmãs e leigos que dali partem e aqui acorrem para celebrarmos na Igreja Mãe da Diocese o primeiro centenário da ordenação presbiteral do Padre Kentenich, Fundador de Schoenstatt. A sua ordenação teve lugar no dia 8 de Julho de 1910.

2. Ouvimos a Palavra de Deus, hoje proclamada, neste 15.º Domingo do tempo Comum.
Na primeira leitura, Moisés fala ao povo sobre os mandamentos da lei de Deus que recebeu no Sinai e anima-o a cumpri-los com fidelidade.
A sua observância não está fora das nossas possibilidades porque o Senhor gravou-os no nosso coração.
O esforço diário para os cumprir é uma manifestação do amor de Deus e expressão da nossa conversão pessoal.
O texto desta leitura é tirado da chamada Aliança de Moab. De uma forma poética e imaginosa muito bela, o autor afirma que o conhecimento da lei de Deus é acessível a todos.
Na segunda leitura S. Paulo, na Carta aos cristãos de Colossos transcreve um admirável hino em honra de Jesus Cristo. Ele é o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada um de nós. Ele é a imagem e o rosto de Deus invisível, o primogénito de toda a criatura e n’Ele reside toda a plenitude.
É de Jesus que ouvimos a resposta dada à estranha pergunta do doutor da lei. Numa resposta que parece ausente da questão formulada, Jesus conta a bela e sempre actual parábola do samaritano e depois questiona os interlocutores, e pergunta também Ele: Dizei-me vós mesmos quem é o próximo deste samaritano caído nas mãos dos malfeitores?

3. Jesus Cristo dá-nos o exemplo perfeito da caridade, fazendo-se um de nós pela sua humanidade. Vindo para salvar o povo de Israel, Jesus desfaz fronteiras e vence barreiras para nos dizer que o projecto de salvação que Deus, Seu Pai, lhe confiara era a redenção da Humanidade. A seu exemplo também cada um de nós é chamado a amar os seus irmãos, a ver com os olhos do coração e não apenas com os critérios da lei e a encontrar o seu próximo, independentemente da raça, da cor ou da situação. Quanto mais estivermos próximos do nosso irmão que sofre, estamos mais perto de Deus e unidos a Deus. Encontramos nesta parábola do bom samaritano, simultaneamente a exigência concreta da caridade e a dimensão universal deste exercício da caridade na verdade. Estejam perto ou longe todas as pessoa humanas são meus irmãos e minhas irmãs.

4. É deste espírito evangélico que se inspira a história de Schoenstatt e a acção pedagógica do Padre Pedro José Kentenich, a partir do Seminário dos Padres Palotinos, situado num belo lugar, como a palavra significa, em Vallendar, Koblenz, nas margens do rio Reno, na Alemanha.
Estamos aqui hoje para dar graças a Deus por esta vida de um homem, a quem a voz do Senhor chamou à vocação sacerdotal e à fidelidade ministerial e pela história de um movimento de Espiritualidade que a partir de acontecimentos simples gerou uma enorme torrente de graças e de bênçãos que chegou até nós.
O Padre Kentenich encontrou em Maria, A Mãe e a Educadora, a quem se havia consagrado, o caminho do equilíbrio humano e da fidelidade sacerdotal. Na sua forte intuição e grande devoção mariana funda em 1912 com vários jovens uma Congregação Mariana, movimento em grande desenvolvimento naquele tempo.
Dois anos depois, alvoroçado pelo início sangrento e devastador da guerra, propôs aos mesmos jovens “uma ideia secreta e predilecta” que lhes pede para secundarem com oferecimentos e méritos, oração e esforço espiritual que contribuam para este capital de graças, dizendo e confirmando pela coerência de vida esta profunda convicção: “Mãe. Nada sem Ti; nada sem nós”.
As palavras dirigidas aos jovens naquele dia 18 de Outubro de 1914, tornam-se o primeiro testemunho da fundação e o grande apelo fundador feito carisma de espiritualidade que daí se alarga a todo o mundo e se torna semente que brota um pouco por todo o lado e que está no meio de nós há mais de 50 anos.
O Padre José Kentenich nasceu no dia 18 de Novembro de 1885; ingressou no seminário dos padres Palotinos em 1899 e foi ordenado sacerdote a 8 de Julho de 1910, aos 25 anos.
Sempre me impressionou o seu carisma mariano, ao bom jeito com que nos falava o Papa Bento XVI, quando nos disse em Fátima que vinha falar a Maria como um filho falava a sua Mãe.

Sempre se gravaram em mim as palavras ditas pelo Padre Kentenich no campo de concentração de Dachau, quando fora feito prisioneiro: “ Nós, sacerdotes deste campo de concentração, vivendo nas condições mais primitivas, não queremos reagir de modo primitivo, mas de modo singelo e autêntico e, se for a vontade de Deus, ou morrer heroicamente no campo como sacerdotes ou mais tarde, como sacerdotes amadurecidos, continuarmos a trabalhar com zelo para o reino de Deus”.
O Padre Kentenich foi libertado em 6 de Abril de 1945, já no termo da guerra, e prosseguiu, agora em liberdade, a sua missão para consolidar e desenvolver todo este grande movimento de espiritualidade da Obra de Schoenstatt, até que em 15 de Setembro de 1968 partiu ao encontro de Deus. No seu túmulo está gravada uma bela e simples inscrição: “Amou a Igreja”.
Foi este amor pela Igreja que definiu a sua vida e que guiou os seus passos. É este mesmo amor que conduz os seus filhos e filhas espirituais em vários países do mundo. É este mesmo amor pela Igreja que todos nós neste tempo difícil da vida do mundo e da Igreja somos chamados a viver e a testemunhar.

Poucos dias após o termo do ano Sacerdotal e na véspera da ordenação de um novo presbítero para a Igreja de Aveiro, confio-vos, irmãos e irmãs, este compromisso de fazermos da nossa oração confiante uma insistente prece à Mãe admirável a favor das vocações sacerdotais e consagradas, para que nunca faltem trabalhadores para a messe. E façamos cada vez mais do nosso Santuário Diocesano de Schoenstatt, na cidade da Gafanha da Nazaré, como desde o início vos pedi, um lugar abençoado de oração eucarística, mariana e vocacional."

+António Francisco dos Santos

Bispo de Aveiro


Fami e Paulo

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