sábado, 27 de outubro de 2012

Centenário do Documento de Pré-Fundação do Movimento de Schoenstatt


100 Anos
(Documento de Pré-Fundação)

27/10/1912 – 27/10/2012

UM REINO DO PAI

Passam hoje exactamente 100 anos sobre aquele documento que em Schönstatt chamamos Acta da pré-fundação. É um documento notável a que o Padre Kentenich chamou PROGRAMA, porque era isso que lhe interessava: anunciar claramente aos estudantes o seu programa, a sua maneira de ver as coisas, a sua avaliação delas e como pensava atingir o grande objectivo da educação num ambiente exterior hostil. 
O texto e o contexto daquele então acabam de ser editados em português pela Irmã Maria da Graça Sales Henriques na tradução do livro de 1939 «SOB A PROTECÇÃO DE MARIA», e cuja leitura é essencial para qualquer schönstattiano. O resumo que aparece logo no princípio da conferência a caracterizar esse mesmo Programa é de todos conhecido: «Queremos, sob a protecção de Maria, aprender a educar­‑nos a nós próprios para sermos personalidades firmes, livres e sacerdotais»
Não quero entrar em pormenores; quero apenas referir que passados mais de 50 anos e já depois de terminado o exílio, em 1966, numa conferência que queria ser uma nova fundação da Coluna dos Homens, o Padre Kentenich de novo evoca a Acta da pré­‑fundação:

«E agora, de que se trata? Mais uma vez afirmamos: Nós, aqui presentes, cremos que fomos enviados, chamados a fundar novamente o Movimento de Homens, ou dizendo mais exactamente: fundá-lo segundo o modelo de 1912 e 1914. O Documento de Fundação é a conclusão do Documento de Pré-fundação. O Documento de Pré-fundação e o Primeiro Documento de Fundação são duas partes essencialmente iguais do mesmo processo vital. Não compreendemos o Primeiro Documento de Fundação sem compreendermos o Documento de Pré-fundação e não captamos a amplitude do Documento de Pré-fundação sem conhecermos o Documento de Fundação». 
Ele fala para os Homens, mas não se cansa de referir que o conteúdo da conferência é para toda a Família, como nestas passagens: 
«O que nós discutimos aqui tem uma importância fundamental para o futuro da Família, principalmente para a "bolsa de pastor" do dirigente».
O Documento de Pré-fundação era destinado a uma juventude que então se encontrava nos anos difíceis da adolescência. Acrescento como complementação: Quem conhece um pouco a estrutura do mundo de hoje, a atitude espiritual da humanidade actual, poderá dizer sem dificuldade: a sociedade humana como tal vive hoje nos anos de crescimento, ou melhor dito, nos anos difíceis, na idade ingrata da adolescência. Mesmo que sejamos mais velhos, talvez tenhamos conservado um resto do homem maduro, mas em geral a humanidade actual como um todo encontra­‑se na idade ingrata, na adolescência.
Por que abordo este assunto? O Documento de Pré-fundação destinava­‑se a esta idade. E nós, tanto sacerdotes como leigos, estamos todos nesta idade. Em todo o caso devem contar com que as reminiscências da adolescência despertam novamente em todos nós, ou estão para despertar. Assim fica afastada a dificuldade de que o Documento de Pré-fundação se destinaria só à juventude de então. Não. Destina-se também e especialmente a nós. Ouçamos a formulação: "Sob a protecção de Maria queremos aprender a nos educar a nós mesmos para tornar-nos personalidades firmes, livres e sacerdotais".


E depois, explicando como deve a palavra «sacerdotal» ser entendida, o Padre Kentenich mostra como o desenvolvimento da história de Schönstatt explicita o que Nossa Senhora quer e ele intuía como «paternidade sacerdotal»: 
«Notem: trata-se sempre de expressões centrais, que sempre recebem um novo conteúdo, que sempre se repetem, até que por fim se cristalizou em toda a Família o grande ideal: Nossa Senhora de Schönstatt quer construir um Reino do Pai para o tempo futuro, para a Igreja das novíssimas praias (do tempo), com um duplo cunho: um cunho sobrenatural e um cunho natural». 
Um Reino do Pai!
E nos anos 60 em Portugal? Só uma coisa posso dizer: Nós queríamos de facto aprender a educar­‑nos a nós próprios, sob a protecção de Maria, para nos tornarmos personalidades firmes e livres (sacerdotais, não tínhamos a certeza, pelo menos aqui em Lisboa – até porque não conhecíamos estas explicações do nosso Pai). 
Quando tudo começou era ainda o tempo difícil do exílio do Fundador. A nossa relação com ele era vaga ou quase inexistente. Melhor: era feita irreflectidamente através do padre que nos assessorava. Por cá vivia­‑se o tempo da Acção Católica afirmativa, rica em realizações, mas que descuidava a formação dos seus membros. E era isso que nos entusiasmava em Schönstatt: a formação. Acho que ainda hoje é por aqui – qualquer que seja a idade (como referia o nosso Pai em 1966) – que se define a vocação para Schönstatt. Estou disposto a pôr a minha vida em jogo? Estou disposto a levar a sério a minha relação com Deus, com todo o mundo sobrenatural? Quero? 
Passados 100 anos e depois de duas guerras mundiais e sete décadas de comunismo feroz que acabou com o muro de Berlim, hoje – no Portugal democrático em crise profunda – é tempo de, aqui e agora, pensar muito a sério nessa proposta do Director Espiritual de 1912. A crise é uma oportunidade fabulosa para que a nossa fé na Divina Providência se torne prática, actuante e, com toda a certeza, vencedora. 
Se quisermos… sob a protecção de Maria…

António Ruivo

Nota: Um agradecimento muito especial ao António Ruivo, por ter enviado este trabalho sobre o Documento de Pré-Fundação.

Fami e Paulo

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