"Em virtude do seu martírio, Pedro e Paulo estão em relacionamento recíproco para sempre. Uma das imagens preferidas pela iconografia cristã é o abraço entre os dois Apóstolos a caminho do martírio. Podemos dizer: no mais íntimo, o seu próprio martírio é a realização de um abraço fraterno. Eles morrem pelo único Cristo e, no testemunho pelo qual dão a vida, são um só. Nos escritos do Novo Testamento podemos, por assim dizer, seguir o desenvolvimento do seu abraço, a realização da unidade no testemunho e na missão. Tudo começa quando Paulo, três anos depois da sua conversão, vai a Jerusalém "para conhecer Cefás" (Gl 1, 18). E volta a Jerusalém, 14 anos depois, para expor "às pessoas mais notáveis" o Evangelho que ele anuncia, para não arriscar a "correr ou ter corrido em vão" (Gl 2, 1s.). No final deste encontro, Tiago, Cefás e João estenderam a mão, confirmando deste modo a comunhão que os congrega no único Evangelho de Jesus Cristo (cf. Gl 2, 9). Encontro um bonito sinal deste abraço interior em crescimento, que se desenvolve apesar da diversidade dos temperamentos e das funções, no facto de que os colaboradores mencionados no final da Primeira Carta de São Pedro Silvano e Marcos são colaboradores igualmente estreitos de São Paulo. Na união dos colaboradores torna-se visível de modo muito concreto a comunhão da única Igreja, o abraço dos grandes Apóstolos.
Pedro e Paulo encontraram-se em Jerusalém pelo menos duas vezes; no final, o percurso de ambos termina em Roma. Por que? É porventura isto mais do que um simples caso? Há nisto, acaso, uma mensagem duradoura? Paulo chegou a Roma como prisioneiro, mas ao mesmo tempo como cidadão romano que, depois de ter sido preso em Jerusalém, precisamente como cidadão recorreu ao imperador, a cujo tribunal foi levado. Mas num sentido ainda mais profundo, Paulo veio voluntariamente a Roma. Mediante a mais importante das suas Cartas, já se tinha aproximado interiormente desta cidade: à Igreja de Roma tinha dirigido o escrito que, mais que todos os outros, é a síntese de todo o seu anúncio e da sua fé. Na saudação inicial da Carta diz que o mundo inteiro fala da fé dos cristãos de Roma, e que esta fé, portanto, é conhecida em toda a parte como exemplar (cf. Rm 1, 8). E depois escreve: "Quero que saibais que muitas vezes pensei em visitar-vos, mas até agora fui impedido" (Rm 1, 13). No final da Carta retoma este tema, falando agora do seu programa de ir até à Espanha. "Quando eu for à Espanha, espero ver-vos por ocasião da minha passagem. Espero também receber a vossa ajuda para ir até lá, depois de ter desfrutado um pouco a vossa companhia" (15, 24). "Sei que, indo até vós, irei com a plenitude da bênção de Cristo" (15, 29). Aqui, tornam-se evidentes duas coisas: Roma é para Paulo uma etapa a caminho da Espanha, ou seja segundo o seu conceito do mundo rumo à extremidade da terra. Considera como sua missão a realização da tarefa recebida de Cristo, de anunciar o Evangelho até aos extremos confins do mundo. Roma encontra-se neste percurso. Embora, em geral, Paulo vá somente aos lugares onde o Evangelho ainda não tinha sido anunciado, Roma constitui uma excepção. Ali ele encontra uma Igreja de cuja fé o mundo fala. O facto de ter ido a Roma faz parte da universalidade da sua missão como enviado para junto de todos os povos. O caminho para Roma, que já antes da sua viagem externa ele tinha percorrido interiormente com a sua Carta, faz parte integrante da sua trarefa de levar o Evangelho a todos os povos de fundar a Igreja católica universal. O facto de ter ido a Roma é para ele expressão da catolicidade da sua missão. Roma deve tornar visível a fé ao mundo inteiro, deve ser o lugar do encontro na única fé. "
Excerto da homilia do Papa Bento XVI em 29 de Junho de 2008, na solenidade de São Pedro e São Paulo.
Fami e Paulo
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