domingo, 22 de julho de 2012

Voluntariado aos doze anos


Tentando dar resposta ao desejo manifestado por algumas adolescentes de um grupo do Porto, que gostariam de fazer voluntariado junto ao Santuário de Aveiro, promovemos pela primeira vez três dias de voluntariado para meninas de 12 anos. Participaram exatamente 20 meninas, 11 vindas do Porto e 9 de Aveiro, que ficaram alojadas na Casa Mater, a casa da JFS. Para realizar as atividades propostas foram divididas em pequenos grupos, de modo a terem oportunidade de passar por todas as tarefas: cuidar de crianças, ajudar na cozinha a preparar as refeições e aprender a fazer doces, trabalhar no jardim, fazer trabalhos manuais com destino à tenda de verão das rifas da creche, fazer pulseiras e fios de missangas com lembrança do santuário e dedicarem-se à recuperação de imagens da Campanha da Mãe Peregrina.


Num outro bloco de atividades internas, os grupos cuidavam do seu refeitório e de arrumar a cozinha, assim como também de preparar as orações da manhã e da noite. Com muita dedicação, as meninas surpreenderam com dinâmicas tão criativas e profundas nos momentos de oração. Foi interessante sentir como a troca de experiências dentro dos próprios grupos, constituídos por meninas de Aveiro e Porto, enriqueceram estes momentos de oração, especialmente o Capital de Graças. Um outro momento forte deste encontro foi a vigília, em que cada uma participou ativamente respondendo à dinâmica proposta, “preenchendo” com a sua contribuição pessoal cada elemento da dinâmica que lhes era apresentado e meditado.


Um dos grandes desafios que o tempo atual nos coloca é o uso do telemóvel e as ligações, a toda a hora, com as redes sociais, seja na hora das refeições, nas tarefas que realizam, nas horas de brincadeira e mesmo no tempo de oração. Durante estes três dias tentamos educar para a renúncia, por uma decisão livre e responsável e despertar para a importância na entrega total às atividades a realizar. Acima de tudo, não proibir, mas confiar que cada uma iria cumprir o que foi proposto. Não resultou a 100%, mas teve resultados extraordinários. Incentivamos a colocarem todos os telemóveis num local previamente preparado com os objetos sobre a dinâmica apresentada. A visualização valeu mais do que mil palavras e motivou a ação. Algumas, com muita “dor”, lá desligavam e largavam o seu telemóvel num ato de coragem. A verdade é que com um programa tão ativo, elas acabaram por não sentir a falta dos telemóveis e até esqueciam de telefonar aos pais na hora proposta para isso. Isso leva-nos à pergunta: porquê esta necessidade constante da sociedade em olhar o telemóvel para ver se tem alguma mensagem, para procurar sempre uma informação ou algo de novo para a sua vida do dia a dia. Porque é que já não se aprende a fazer uma coisa de cada vez, a ter alegria e gostar daquilo que se está a fazer, sem ter essa necessidade, quase instintiva, de procurar algo novo? Educar para valores maiores, para a beleza, para o bem comum e dar sentido ao que fazemos, especialmente sentido à vida, leva a que não sejam os telemóveis a manipular a nossa vida, a marcar o ritmo do nosso dia-a-dia, mas que, a partir do nosso interior, tenhamos a liberdade e a coragem de nos educar-nos à renúncia por um objetivo maior.


"No futuro, já não poderemos deixar-nos dominar pelos nossos conhecimentos, mas temos que ser nós a dominá-los. Já não deverá acontecer dominarmos diversas línguas estrangeiras segundo o objetivo do programa escolar, mas sermos os mais perfeitos ignorantes em relação ao conhecimento e à compreensão da linguagem do nosso coração. Quanto mais profundamente penetrarmos nas tendências e no desenvolvimento da natureza, tanto mais racional e adequadamente temos que saber enfrentar as forças instintivas e diabólicas no nosso interior. O grau do nosso progresso no domínio das ciências tem que ser o grau do nosso aprofundamento interior, do crescimento da nossa alma. Caso contrário, cria-se também no nosso interior um vazio enorme, um abismo tremendo que nos faz sentir profundamente infelizes. Portanto, auto educação!” (1912, P.K. no Doc. Pré-Fundação)

MP

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