segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Mãe Peregrina junto dos familiares das vítimas de Santa Maria

 
Testemunho do Pietro Lovato da Juventude masculina de Schoenstatt:
 
Fui acordado com o meu irmão Giovanni abrindo a porta do quarto e falando que já havia mais de 20 mortos num incêndio na discoteca Kiss, onde ocorria uma festa promovida por seis cursos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foi na UFSM que meu pai, Thomé Lovato, se formou e hoje é professor e diretor do Centro de Ciências Rurais (o que mais perdeu alunos), e onde nós dois, eu e o Giovanni, estudamos. Por isso, a ansiedade era grande para saber de notícias dos nossos amigos e colegas. A cada contato feito, vibrávamos por saber que muitos deles não foram à discoteca, por obra da Providência.
As notícias que vinham do rádio e da internet deixavam-nos mais preocupados, pois os responsáveis pelo resgate falavam em pelo menos 200 mortos. A tensão tomou conta de todos nós e às 11 da manhã fomos ao Centro Desportivo Municipal (CDM) com o Fernando Henrique (JMS) e meninas da JFS para fazer uma missão como nuncatínhamos feito antes: levar a Mãe Peregrina para confortar uma cidade inteira que chorava a perda de seus familiares, colegas e amigos. Algumas Irmãs de Maria também foram ao local e aos hospitais para rezar com as famílias.
Ao chegar, o clima era de guerra. Caminhões com os corpos das vítimas chegavam a todo momento, para serem identificadas num dos ginásios do Centro Desportivo Municipal. Na rua, as famílias viviam um misto de esperança e desespero. Uns viam que os seus familiares e amigos não estavam entre os mortos, e outros desesperavam ao reconhecê-los.
Iniciando as nossas orações, muitas pessoas começaram a se aproximar para compartilhar e reafirmar a esperança de que os mártires já estariam junto a Deus, e pedir força para os sobreviventes. A impressão era que a simples presença da Mãe de Deus no local estava ajudando a todos a entender e buscar forças para superar este momento de grande comoção. Na fila para o reconhecimento, os missionários abordavam as pessoas e se ofereciam para rezar junto. A emoção de todos era evidente, e algumas pessoas literalmente se agarravam à MTA. Às 14h30min, voltamos para as nossas casas, pois neste dia iríamos comemorar os 25 anos de casados dos nossos pais. Meu outro irmão, Tobias, veio de Belo Horizonte especialmente para essa data, que ficará para sempre marcada em nós. Mas nem a presença de toda a nossa família, e a comemoração ocorreram com a alegria característica de nossa cidade. Uma grande parte de nós se foi.
Desde então, o espírito santamariense adotou o silêncio como sua forma principal. Nas ruas, apenas o barulho dos carros. Na UFSM, apenas o barulho das ambulâncias com os feridos do Hospital Universitário é ouvido. Assim, a cidade vai lentamente cicatrizando as suas feridas, que marcou os corações de todos profundamente.

 
Cálices Vivos
 
Horas antes da tragédia na Discoteca Kiss, o JMS do Brasil encerrava a II Missão Cristo Tabor. Pela primeira vez, os quatro regionais puderam anunciar o Cristo transfigurado e glorioso, levando a Mãe Peregrina. O lema “O mundo todo é o nosso Campo de Batalha” impulsionou-nos a entregar tudo à Mãe de Deus, depositando os nossos sacrifícios, alegrias e actos no Cálice que irá transformar-se em Sangue de Cristo. Unidos pelo Sangue de Cristo a conquista do Cálice parece cada vez mais próxima. Ao mesmo tempo que nos aproximamos do nosso, um outro cálice, com o sacrifício de muitas vidas humanas e aparentemente maior que a capacidade de aguentá-lo, parece ter sido entregue a Santa Maria.
A tragédia leva-nos a refletir sobre o que Deus poderia estar querendo dizer à cidade, cada um de nós e ao JMS, com tantos jovens perdendo suas vidas numa cidade universitária, que no próprio nome carrega a devoção a Maria como principal característica. Buscando entender à luz da Divina Providência os motivos disso tudo, cito dois sinais que me ajudaram a compreender e achar um novo caminho, e que, de certa forma, podem ajudar-nos.
O primeiro é uma oração do Rumo ao Céu (589-599) e a letra da música “La Labor del Apóstol” do álbum Tiempo de Alianza, do Colégio Mayor Pe. Kentenich, que falam: Chegou a hora do teu amor! O segundo, uma mensagem enviada terça-feira, pelo Sr. Ernest Brandstetter, Irmão de Maria, ao meu pai, que dizia: “Nós vamos em frente, apesar das dificuldades. Não, o Fundador diria, justamente por causa das dificuldades. Em outra linguagem: transformamos o negativo em positivo. Cristo usou a cruz de toda sua vida como instrumento da salvação”.
Através de grandes dificuldades, como as guerras, o exílio, a vida de nossos heróis, o Movimento provou ser uma obra de Deus. Nos seus pequenos instrumentos, que se consagraram inteiramente a Schoenstatt, a Mãe de Deus mostrou a força do seu Amor! O cálice desses jovens deve se transformar em impulso para que nós, JMS Brasil, vivamos o nosso Ideal. Vinculados por Maria, podemos unir-nos em oração pelas famílias e pelos que ainda lutam pela vida. Com o ardor pelo Cristo transfigurado, podemos levar a mensagem de Esperança e Ressurreição a todo o mundo. A preparação para o Ignis e para a Jornada Mundial da Juventude é uma grande forma de honrarmos essas pessoas que hoje intercedem junto a Deus por nós. O espírito da Geração Missionária deve tomar conta de nosso ser e agir, e por meio desses acontecimentos, poderemos fundar os próximos 100 anos de Schoenstatt. Que através de nossas vidas, possamos ser imagens do Cristo Tabor e conduzir Santa Maria e o mundo a uma Cultura da Aliança!

Pietro Marramarco Lovato

Secretário Nacional da Juventude Masculina de Schoenstatt do Brasil

Fonte: http://www.jumasbrasil.com.br/noticias/27-de-janeiro-de-2013/
 

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