Das Catequeses quaresmais à
alegria da Páscoa
O arco do tempo deste mês de
Março inicia-se com a terceira Catequese, desenvolve-se em plena Quaresma e vai
conduzir-nos à Páscoa.
As Catequeses foram uma
iniciativa muito bela, transformada em experiência eclesial de formação cristã
muito densa. Partilhei a alegria, a generosidade e o testemunho dos
missionários, que percorreram todos os caminhos da Diocese, para levar a
alegria de crer e o entusiasmo de comunicar a fé. Senti em cada lugar a
participação significativa de tão numerosos cristãos com os seus párocos, no
mesmo dia, à mesma hora e sobre o mesmo tema. A certeza aí expressa de que
somos discípulos felizes de Jesus Cristo, realizadores das bem-aventuranças e
membros desta Igreja Diocesana que dia a dia edifica e narra a história da
salvação em Aveiro é um valor eclesial imenso e abre-nos caminhos inovadores de
evangelização.
Esta é a hora de dar graças a
Deus, de agradecer às Comunidades disponíveis para crescer na fé, de louvar as
centenas de missionários que tão generosos e felizes se sentiram por anunciar a
boa nova de Jesus e a beleza da sua Igreja. Esta é a hora de dizer uma palavra
de reconhecimento a todos quantos trabalharam na preparação e na elaboração dos
textos catequéticos para adultos, jovens e crianças.
Sentiu-se mais belo, visível e verdadeiro
o nosso lema “Vive esta hora!”, impresso no coração de milhares
de cristãos que se reuniram em catequese para firmar e alimentar a fé – esta fé
da Igreja que nos gloriamos de professar, em Jesus Cristo, Senhor.
O Transcendente presente
A arte é uma janela através da
qual a Igreja deve sonhar o futuro e olhar o mundo para daí abrir a porta ao
diálogo com a cultura do nosso tempo e ouvir os desafios que hoje se lançam à
evangelização.
A Exposição inaugurada a 20 de
Janeiro e que se prolonga até 7 de Abril, no Museu de Aveiro, constitui uma
bela mostra do património histórico, artístico e religioso da nossa Diocese,
trazendo ao espaço emblemático do antigo Mosteiro de Jesus, onde viveu e
repousa Santa Joana, peças das cento e uma paróquias da Diocese.
A arte sempre foi para a Igreja
espelho da beleza de Deus, expressão do talento humano e escola de catequese
cristã.
Aberta gratuitamente ao público,
esta Exposição oferece-nos também uma oportunidade de diálogo livre e aberto
com o mundo através de outros horizontes de pensamento, de arte e de vida.
Neste ambiente e contexto da
Exposição, demos voz, no passado dia 2, à pintura com Emília Nadal e à música
com Diogo Alte da Veiga. Foi uma noite cultural aberta ao Transcendente para no
encanto pelo divino encontrarmos linhas de rumo, de beleza e de felicidade para
a Humanidade. É deste modo, também, que a Igreja de Aveiro anuncia caminhos
novos em plena cidade dos homens, abertos ao diálogo da Humanidade com Deus e
ao encontro do Transcendente com o Presente.
Incentivemos a visita à
Exposição, priorizando sobretudo as tardes de domingo em que, a partir das
15.00 horas, teremos a guiar esta visita o saber e a dedicação de Monsenhor
João Gonçalves Gaspar, Vigário Geral da Diocese e presidente da Comissão Diocesana
dos Bens Culturais. Ele acompanha, desde há muito, e conhece como ninguém o
património artístico da nossa Diocese.
Dia do Deserto
A Quaresma vivida em caminhada
espiritual que nos conduz à Páscoa é tempo abençoado de graça a provocar
caminhos de conversão e a oferecer oportunidades de maior aproximação de Deus.
O deserto foi sempre, desde os
tempos bíblicos, o ambiente mais natural para o conseguir. Aí se tornava mais
sensível a presença de Deus para o povo de Israel e aí se fazia mais
perceptível a Palavra divina para os condutores e servidores deste povo. Aí
aprendiam os profetas a transformar a vontade e o sonho de Deus em mensagem
humana e em liberdade para o povo de Israel, vencendo horas de desânimo ou
decidindo passos firmes do caminho rumo à Terra da Promessa.
Também o Espírito de Deus
conduziu Jesus ao deserto; daqui partiu Jesus para a missão. E em lugares de
deserto tantas vezes se recolhia Jesus, para descobrir no silêncio o ambiente
propício à oração e aí receber ânimo humano e força divina.
Convido-vos, amados diocesanos, a
participardes nesta iniciativa arciprestal, erguendo no coração das cidades e
vilas, por entre o bulício da pressa e a agitação da vida, espaços e tempos
onde o silêncio nos fale de Deus e a oração fale de nós a Deus.
É este Dia do Deserto
um verdadeiro retiro quaresmal a integrar anteriores e habituais experiências
de vivência espiritual das paróquias e dos movimentos apostólicos. Deseja ser
igualmente testemunho de comunhão de pessoas, grupos e comunidades que despertam,
pelo silêncio e com a oração, o mundo em que estamos inseridos para o mais
importante da vida e para o essencial da fé, que o deserto sempre nos traz e
permanentemente nos proporciona: o encontro com Deus e com os irmãos.
É esta mesma experiência íntima e
profunda de conversão interior e de encontro com Deus que procuramos na
celebração do sacramento da Reconciliação, oferecido em todas as comunidades da
Diocese de forma mais intensa neste tempo da Quaresma e de modo muito
significativo neste Dia e neste espaço do Deserto.
(IN)VESTE
O gesto simples de usar algo
identificativo da Missão Jubilar pode parecer uma ideia menor. Queremos,
todavia, com este gesto dar valor à grandeza da vida humana e dar testemunho à
beleza da fé professada, testemunhada e partilhada. E isso faz-se com grandes
decisões mas também com pequenos e significativos gestos.
A Missão Jubilar é para todos nós
uma verdadeira escola de pedagogia da fé e de alegria feliz da vida em Deus e
em Igreja, de vida com os outros e para os outros.
Vamos vestir-nos da simplicidade
e da verdade da fé que dá cor branca e feliz à vida, como é a cor da bandeira
da nossa Diocese.
Afirmar e anunciar a nossa fé em
Jesus Cristo é um belo e necessário serviço de amor aos nossos contemporâneos a
antecipar as cores de uma nova primavera da vida que se inicia neste mês de
Março e de uma encantadora primavera da fé que a Missão Jubilar nos traz.
A afirmação do padre António
Vieira dita há séculos torna-se actual hoje: “Uma fé que não se apega,
apaga-se”.
Anunciemos com este gesto, no
próximo dia 11 e sempre, a nossa alegria de crer em Deus e o nosso entusiasmo
de comunicar a fé, mostrando com alegria que somos cristãos: “ Um dia vou
vestir a camisola…Hoje é o dia!”
Paixão de Cristo
A Comunidade cristã da S. Pedro
da Palhaça teve no ano passado com a encenação da Paixão de Cristo
uma iniciativa original de vivência da Quaresma que transpôs as fronteiras da
própria paróquia.
Quisemos integrar esta iniciativa
na Missão Jubilar dando-lhe dimensão diocesana. Agradeço ao Pároco e à
Comunidade a disponibilidade, a generosidade e o sentido de Igreja que
manifestam. O resultado da venda dos bilhetes de entrada destina-se ao Fundo
Diocesano de Emergência Social para ir ao encontro dos que mais precisam e
sofrem nesta hora de crise social.
Somos convidados, assim, a
participar nesta encenação da Paixão de Cristo, a 16 e 17 de
Março, no Centro Cultural de Ílhavo. Aí nos encontraremos, nesses dias, em
momentos de arte e em testemunhos de pedaços do evangelho com o mistério da
paixão de Jesus, transformado em milagre de esperança e de redenção para a
Humanidade.
“Vou ser um peregrino”
Estamos em tempo de Sé vacante na
Igreja. Bento XVI anunciou no passado dia 11 de Fevereiro a sua decisão de
renúncia ao ministério de Sucessor de Pedro, que se tornaria efectiva a 28 do
mesmo mês.
O Santo Padre surpreendeu-nos,
nesse dia, com a sua decisão inédita, com o seu gesto histórico e com o seu
espírito profético.
Continua a surpreender-nos com as
suas palavras a dizer-nos que está unido à cruz de Cristo e à Igreja pelo mesmo
amor de sempre. Continuará a surpreender-nos a partir de agora pela voz do
silêncio que escolheu como programa de vida e pela alma de profeta a sonhar o
futuro da Igreja.
Definiu-se a si mesmo como “peregrino
numa nova etapa de peregrinação”. Mas como pode ser peregrino alguém que se
acolhe num convento para aí morar definitivamente e se recolhe no silêncio da
clausura para aí permanecer a rezar?
Só Deus o sabe e a fé o explica.
Bento XVI foi mestre, pastor e profeta pela vida, pela palavra e a partir de
agora sê-lo-á pelo silêncio. Como todo o profeta, ele antecipa o futuro com
esta sábia e santa decisão e desvenda caminhos novos para quem o segue.
A alma alimenta-se no silêncio. É
na oração que a alma se desvela e é igualmente a partir daí que o futuro
germina.
Rezemos neste momento pelos
Cardeais reunidos em Conclave para que, inspirados pelo Espírito e atentos aos
sinais de novos tempos, possam eleger aquele que o Espírito de Deus escolhe e
assim no-lo apresentem com alegria e com fé.
Queremos partilhar com o novo
Sucessor de Pedro a comunhão na mesma fé e com ele assumir com novo vigor e
renovado encanto a paixão pela missão.
Este é o dia que o Senhor fez
Culmina este mês de Março na
celebração do Tríduo pascal com o anúncio festivo da Ressurreição de Jesus.
Esta primavera da vida, que a natureza nos oferece, é um verdadeiro mistério da
criação e da incarnação que se faz mistério de redenção pela Páscoa de Jesus e
nossa Páscoa também.
Convido-vos, amados diocesanos, a
participardes com alegria e com fé nos momentos marcantes da celebração da
Semana Santa e do Tríduo Pascal.
A celebração da Páscoa é o centro
do ano litúrgico, a partir do qual se compreende o mistério da salvação da
Humanidade. A nossa missão de realizadores das bem-aventuranças só pode ser
compreendida à luz da Páscoa e daí partir e repartir em permanência.
Aí nos conduz o dinamismo da
Missão Jubilar e daí repartirá como feliz anúncio de quem sabe que esta é uma
hora pascal: “Este é o dia que o Senhor fez. Alegremo-nos e
exultemos nele” (Sal 117).
“Vive esta hora!”, como verdadeira hora pascal e
como autêntico e feliz discípulo de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado.
Aveiro, 3 de Março de 2013
António Francisco dos
Santos, bispo de Aveiro
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