domingo, 10 de março de 2013

Mensagem à Diocese – [IN]VESTE


Das Catequeses quaresmais à alegria da Páscoa

O arco do tempo deste mês de Março inicia-se com a terceira Catequese, desenvolve-se em plena Quaresma e vai conduzir-nos à Páscoa.
As Catequeses foram uma iniciativa muito bela, transformada em experiência eclesial de formação cristã muito densa. Partilhei a alegria, a generosidade e o testemunho dos missionários, que percorreram todos os caminhos da Diocese, para levar a alegria de crer e o entusiasmo de comunicar a fé. Senti em cada lugar a participação significativa de tão numerosos cristãos com os seus párocos, no mesmo dia, à mesma hora e sobre o mesmo tema. A certeza aí expressa de que somos discípulos felizes de Jesus Cristo, realizadores das bem-aventuranças e membros desta Igreja Diocesana que dia a dia edifica e narra a história da salvação em Aveiro é um valor eclesial imenso e abre-nos caminhos inovadores de evangelização.
Esta é a hora de dar graças a Deus, de agradecer às Comunidades disponíveis para crescer na fé, de louvar as centenas de missionários que tão generosos e felizes se sentiram por anunciar a boa nova de Jesus e a beleza da sua Igreja. Esta é a hora de dizer uma palavra de reconhecimento a todos quantos trabalharam na preparação e na elaboração dos textos catequéticos para adultos, jovens e crianças.
Sentiu-se mais belo, visível e verdadeiro o nosso lema “Vive esta hora!”, impresso no coração de milhares de cristãos que se reuniram em catequese para firmar e alimentar a fé – esta fé da Igreja que nos gloriamos de professar, em Jesus Cristo, Senhor. 
 


O Transcendente presente
A arte é uma janela através da qual a Igreja deve sonhar o futuro e olhar o mundo para daí abrir a porta ao diálogo com a cultura do nosso tempo e ouvir os desafios que hoje se lançam à evangelização.
A Exposição inaugurada a 20 de Janeiro e que se prolonga até 7 de Abril, no Museu de Aveiro, constitui uma bela mostra do património histórico, artístico e religioso da nossa Diocese, trazendo ao espaço emblemático do antigo Mosteiro de Jesus, onde viveu e repousa Santa Joana, peças das cento e uma paróquias da Diocese.
A arte sempre foi para a Igreja espelho da beleza de Deus, expressão do talento humano e escola de catequese cristã.
Aberta gratuitamente ao público, esta Exposição oferece-nos também uma oportunidade de diálogo livre e aberto com o mundo através de outros horizontes de pensamento, de arte e de vida.
Neste ambiente e contexto da Exposição, demos voz, no passado dia 2, à pintura com Emília Nadal e à música com Diogo Alte da Veiga. Foi uma noite cultural aberta ao Transcendente para no encanto pelo divino encontrarmos linhas de rumo, de beleza e de felicidade para a Humanidade. É deste modo, também, que a Igreja de Aveiro anuncia caminhos novos em plena cidade dos homens, abertos ao diálogo da Humanidade com Deus e ao encontro do Transcendente com o Presente.
Incentivemos a visita à Exposição, priorizando sobretudo as tardes de domingo em que, a partir das 15.00 horas, teremos a guiar esta visita o saber e a dedicação de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, Vigário Geral da Diocese e presidente da Comissão Diocesana dos Bens Culturais. Ele acompanha, desde há muito, e conhece como ninguém o património artístico da nossa Diocese. 

Dia do Deserto
A Quaresma vivida em caminhada espiritual que nos conduz à Páscoa é tempo abençoado de graça a provocar caminhos de conversão e a oferecer oportunidades de maior aproximação de Deus.
O deserto foi sempre, desde os tempos bíblicos, o ambiente mais natural para o conseguir. Aí se tornava mais sensível a presença de Deus para o povo de Israel e aí se fazia mais perceptível a Palavra divina para os condutores e servidores deste povo. Aí aprendiam os profetas a transformar a vontade e o sonho de Deus em mensagem humana e em liberdade para o povo de Israel, vencendo horas de desânimo ou decidindo passos firmes do caminho rumo à Terra da Promessa.
Também o Espírito de Deus conduziu Jesus ao deserto; daqui partiu Jesus para a missão. E em lugares de deserto tantas vezes se recolhia Jesus, para descobrir no silêncio o ambiente propício à oração e aí receber ânimo humano e força divina.
Convido-vos, amados diocesanos, a participardes nesta iniciativa arciprestal, erguendo no coração das cidades e vilas, por entre o bulício da pressa e a agitação da vida, espaços e tempos onde o silêncio nos fale de Deus e a oração fale de nós a Deus.
É este Dia do Deserto um verdadeiro retiro quaresmal a integrar anteriores e habituais experiências de vivência espiritual das paróquias e dos movimentos apostólicos. Deseja ser igualmente testemunho de comunhão de pessoas, grupos e comunidades que despertam, pelo silêncio e com a oração, o mundo em que estamos inseridos para o mais importante da vida e para o essencial da fé, que o deserto sempre nos traz e permanentemente nos proporciona: o encontro com Deus e com os irmãos.
É esta mesma experiência íntima e profunda de conversão interior e de encontro com Deus que procuramos na celebração do sacramento da Reconciliação, oferecido em todas as comunidades da Diocese de forma mais intensa neste tempo da Quaresma e de modo muito significativo neste Dia e neste espaço do Deserto.

 (IN)VESTE
O gesto simples de usar algo identificativo da Missão Jubilar pode parecer uma ideia menor. Queremos, todavia, com este gesto dar valor à grandeza da vida humana e dar testemunho à beleza da fé professada, testemunhada e partilhada. E isso faz-se com grandes decisões mas também com pequenos e significativos gestos.
A Missão Jubilar é para todos nós uma verdadeira escola de pedagogia da fé e de alegria feliz da vida em Deus e em Igreja, de vida com os outros e para os outros.
Vamos vestir-nos da simplicidade e da verdade da fé que dá cor branca e feliz à vida, como é a cor da bandeira da nossa Diocese.
Afirmar e anunciar a nossa fé em Jesus Cristo é um belo e necessário serviço de amor aos nossos contemporâneos a antecipar as cores de uma nova primavera da vida que se inicia neste mês de Março e de uma encantadora primavera da fé que a Missão Jubilar nos traz.
A afirmação do padre António Vieira dita há séculos torna-se actual hoje: “Uma fé que não se apega, apaga-se”.
Anunciemos com este gesto, no próximo dia 11 e sempre, a nossa alegria de crer em Deus e o nosso entusiasmo de comunicar a fé, mostrando com alegria que somos cristãos: “ Um dia vou vestir a camisola…Hoje é o dia!” 

Paixão de Cristo
A Comunidade cristã da S. Pedro da Palhaça teve no ano passado com a encenação da Paixão de Cristo uma iniciativa original de vivência da Quaresma que transpôs as fronteiras da própria paróquia.
Quisemos integrar esta iniciativa na Missão Jubilar dando-lhe dimensão diocesana. Agradeço ao Pároco e à Comunidade a disponibilidade, a generosidade e o sentido de Igreja que manifestam. O resultado da venda dos bilhetes de entrada destina-se ao Fundo Diocesano de Emergência Social para ir ao encontro dos que mais precisam e sofrem nesta hora de crise social.
Somos convidados, assim, a participar nesta encenação da Paixão de Cristo, a 16 e 17 de Março, no Centro Cultural de Ílhavo. Aí nos encontraremos, nesses dias, em momentos de arte e em testemunhos de pedaços do evangelho com o mistério da paixão de Jesus, transformado em milagre de esperança e de redenção para a Humanidade. 

“Vou ser um peregrino”
Estamos em tempo de Sé vacante na Igreja. Bento XVI anunciou no passado dia 11 de Fevereiro a sua decisão de renúncia ao ministério de Sucessor de Pedro, que se tornaria efectiva a 28 do mesmo mês.
O Santo Padre surpreendeu-nos, nesse dia, com a sua decisão inédita, com o seu gesto histórico e com o seu espírito profético.
Continua a surpreender-nos com as suas palavras a dizer-nos que está unido à cruz de Cristo e à Igreja pelo mesmo amor de sempre. Continuará a surpreender-nos a partir de agora pela voz do silêncio que escolheu como programa de vida e pela alma de profeta a sonhar o futuro da Igreja.
Definiu-se a si mesmo como “peregrino numa nova etapa de peregrinação”. Mas como pode ser peregrino alguém que se acolhe num convento para aí morar definitivamente e se recolhe no silêncio da clausura para aí permanecer a rezar?
Só Deus o sabe e a fé o explica. Bento XVI foi mestre, pastor e profeta pela vida, pela palavra e a partir de agora sê-lo-á pelo silêncio. Como todo o profeta, ele antecipa o futuro com esta sábia e santa decisão e desvenda caminhos novos para quem o segue.
A alma alimenta-se no silêncio. É na oração que a alma se desvela e é igualmente a partir daí que o futuro germina.
Rezemos neste momento pelos Cardeais reunidos em Conclave para que, inspirados pelo Espírito e atentos aos sinais de novos tempos, possam eleger aquele que o Espírito de Deus escolhe e assim no-lo apresentem com alegria e com fé.
Queremos partilhar com o novo Sucessor de Pedro a comunhão na mesma fé e com ele assumir com novo vigor e renovado encanto a paixão pela missão. 

Este é o dia que o Senhor fez
Culmina este mês de Março na celebração do Tríduo pascal com o anúncio festivo da Ressurreição de Jesus. Esta primavera da vida, que a natureza nos oferece, é um verdadeiro mistério da criação e da incarnação que se faz mistério de redenção pela Páscoa de Jesus e nossa Páscoa também.
Convido-vos, amados diocesanos, a participardes com alegria e com fé nos momentos marcantes da celebração da Semana Santa e do Tríduo Pascal.
A celebração da Páscoa é o centro do ano litúrgico, a partir do qual se compreende o mistério da salvação da Humanidade. A nossa missão de realizadores das bem-aventuranças só pode ser compreendida à luz da Páscoa e daí partir e repartir em permanência.
Aí nos conduz o dinamismo da Missão Jubilar e daí repartirá como feliz anúncio de quem sabe que esta é uma hora pascal: Este é o dia que o Senhor fez. Alegremo-nos e exultemos nele” (Sal 117).

“Vive esta hora!”, como verdadeira hora pascal e como autêntico e feliz discípulo de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado. 

Aveiro, 3 de Março de 2013
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

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