"A paixão
de Jesus condensa e realiza, de forma sublime, a plenitude do amor de Jesus ao
Pai e da sua entrega a Deus para bem da Humanidade, que todos nós somos.
A cruz de Jesus está plantada entre a Terra e o Céu, como
uma ponte entre o Mundo e Deus. É cruz com raiz no chão humano e está erguida
no sentido do horizonte do infinito. É cruz aberta em abraço divino a todos os
que sofrem. É cruz, sinal de misericórdia e certeza de salvação para a
Humanidade. É o símbolo mais conhecido e mais expressivo da nossa fé e da nossa
identidade cristã."
É grande
o seu sofrimento mas é maior o seu perdão! É imensa a sua dor mas é superior a
sua misericórdia! É injusta a sua condenação mas continua intacto o seu amor!
Jesus submeteu-se, calado e inocente, ao julgamento dos governantes, à
prepotência dos poderosos e à inconsciência da multidão.
Jesus perdoa aos verdugos, suporta o abandono dos amigos,
vibra e chora com a dor da multidão, aceita a ajuda dos que o acompanham no
caminho, solidariza-se com a sorte dos excluídos e dos condenados e vai fazer
germinar uma nova humanidade.
O amor e
a misericórdia levam Jesus a partilhar a ceia pascal com os amigos, a ser
compreensivo com os discípulos no Jardim das Oliveiras, a olhar de modo
compassivo a Pedro, a acolher com ternura o choro das mulheres de Jerusalém, a
confrontar Herodes e Pilatos com a verdade, a aceitar a desejada colaboração de
Simão de Cirene, a ouvir sem se indignar as imprecações dos soldados, a
contemplar o pequeno grupo de fiéis junto à cruz, a entregar o cuidado da Sua
Mãe a João e deste à Sua Mãe, a confiar-se para sempre nos braços do Pai e a
recolher-se, por momentos, no regaço terno da sua Mãe, antes de descer à paz
serena da sepultura.
Precisamos
que o amor de Jesus e a misericórdia divina inspirem as relações humanas. Só
assim teremos leis justas que respeitem na sua dignidade os pobres e os
pequenos e dêem voz e lugar aos mais humildes.
A misericórdia devia ser uma atitude interior, uma norma
de vida, um paradigma inerente à condição humana. Não há fraternidade possível
sem misericórdia. Não há vida de família feliz sem perdão. Não há justiça
humana sem esta reserva interior do coração e sem este dom divino de
compreensão pela diferença e de respeito pela igualdade. Não há paz entre os
povos sem este reconhecimento pela verdade, pela justiça e pelo perdão.
A cruz de
Jesus e o mistério da sua paixão redentora a favor da Humanidade levam-nos a
procurar a bênção dos pobres à maneira do evangelho e a aprender a sabedoria
dos humildes, porque são esses os bem-aventurados de Deus.
A bênção dos pobres e dos humildes consiste em descobrir
o tesouro sagrado da dignidade humana que habita nos seus corações simples e
livres, porque eles são criaturas abençoadas de Deus. Também por eles morreu
Jesus.
A cruz de Cristo ensina-nos a rezar por todos os irmãos
para quem a cruz é hoje peso e dor para que ela se torna libertação e Páscoa.
Sofrem tanto, alguns irmãos nossos! Vejo-os e
compadeço-me. Mas isso não basta! Às vezes acompanho-os e consolo-os. Mas
isso é ainda pouco!
Sofrem na vida e no coração. Sofrem na solidão, no
desemprego, na desventura e na doença. Sofrem tantas vezes rodeados de outros
sofredores solitários. Sofrem ainda hoje tantos por seguir a Cristo e por
<ele deram a vida nos últimos tempos. Pela sua mensagem, pela sua ousadia,
por serem Seus discípulos! Por serem verdadeiros, por serem justos, por serem
pobres, por serem honestos!
Fazemos do cristianismo tantas vezes um prolongado
raciocínio e uma bem construída argumentação, mas não damos um passo nem temos
um gesto, nem tão pouco assumimos a ousadia de uma acção para ir ao encontro de
Cristo e dos nossos irmãos."
Nota: As fotografias foram tiradas na celebração realizada no Santuário de Schoenstatt, ontem Sexta Feira Santa.
O Texto são excertos retirados da Homilia do sr. Bispo de Aveiro, D. António Francisco na Missa da Paixão do Senhor, na Sé de Aveiro.
Fami e Paulo
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