terça-feira, 2 de abril de 2013

A minha experiência com o Papa – Entrevista ao P. Ángel Strada

 
O dia da eleição do Papa Francisco não passou despercebido em Schoenstatt. Telefonemas, mensagens, encontros… tudo era instrumento de comunicação para que ninguém ficasse sem ser testemunha do momento histórico que se estava a viver. Depois do tão esperado "Habemus Papam", os sinos do Santuário Original começaram a tocar e muitos vieram para dar graças a Deus durante a Bênção da Noite.
Em pouco tempo já se podiam ver fotografias de Francisco em todas as redes sociais. Uma em especial foi causa de especial alegria. Tratava-se de uma fotografia tirada na sacristia da catedral de Buenos Aires, onde aparecia um grupo numeroso de Padres de Schoenstatt junto ao então Cardeal Bergoglio. Entre eles encontrava-se o Padre Ángel Strada, que concedeu uma entrevista a schoenstatt.org.
 

Teve contacto pessoal com o atual Santo Padre?

 
A primeira ocasião de contacto pessoal foi há alguns anos num simpósio sobre a "A Conceção da Autoridade do Padre Kentenich" em Buenos Aires. A Missa final foi com o Arcebispo de Buenos Aires. Apresentaram-me como sendo postulador da Causa do Padre Kentenich e que vivia na Alemanha. Ele perguntou-me como estava a situação da causa, falei-lhe um pouco sobre o seu progresso. Depois de tirar os ornamentos, parou à minha frente e rindo, disse-me em alemão: Não se esqueça de rezar por mim, mas não o faça em alemão." Já na missa tive a impressão de que se tratava de um homem muito autêntico, não teve nenhum gesto que fosse para chamar a atenção, um homem muito sóbrio.
 

Convida ao contacto pessoal

 
A seguir tivemos um longo encontro com ele por ocasião do Ano Sacerdotal em 2010. O encontro foi organizado por todas as comunidades de sacerdotes de Schoenstatt e convidámos outros sacerdotes. O encontro com ele foi na cúria de Buenos Aires. O tema que lhe pedimos foi: “O sacerdote segundo o documento de Aparecida” (ele é o autor). A minha recordação desse dia é que nos deu umas notas de uma conferência anterior para leitura pessoal e convidou-nos a entrar em diálogo com ele. Tem uma personalidade que convida a entrar em contacto pessoal com ele com toda a liberdade e temos o desejo de o conhecer melhor. Por isso podemos atrever-nos a fazer qualquer tipo de pergunta.
A minha pergunta nessa ocasião foi: “Que significa para si a Virgem Maria?” Ele respondeu: “A Virgem para mim é quase tudo! A Ela posso sempre recorrer. Quando perco a paz interior, falo com Ela, conto-lhe tudo, escuta-me sempre e devolve-me a paz. Quando estou com paz interior, de vez em quando, tomo boas decisões; se estou sem paz interior erro sempre. Então Ela é a responsável das boas decisões que tomo, é quem me dá confiança, quem está sempre ao meu lado, é incondicional.” Estive com ele mais uma vez na missa central do bicentenário da Independência da Argentina na Basílica de Luján, onde falou de Maria com um carinho extraordinário.



O encontro antes do Conclave
 
O nosso último encontro foi em 23 de fevereiro passado, num sábado de manhã. Não havia nenhum funcionário na cúria, só o porteiro. O Cardeal estava sozinho nos corredores, tinha um molho de chaves e começou a abrir portas, a acender as luzes, estava à nossa espera para saudar cada um de nós. Esperou que chegássemos todos e tinha preparado para cada um exemplares do último livro que escreveu "Mente aberta, coração crente" que são notas de retiros para sacerdotes e uma conferência sobre o sacerdócio em Aparecida.
A conversa começou com o tema da saúde e ele disse que ia entrar no Conclave com uma bengala, de modo a que os cardeais pensassem que não podiam votar num idoso. Perguntámos-lhe que característica devia ter o novo Papa. A sua resposta: "Vou dizer-lhes coisas evidentes, mas são coisas em que eu acredito. Em primeiro lugar, tem que ser um homem de oração, com uma profunda vinculação a Deus. Em segundo lugar, deve estar profundamente convencido de que o Senhor da Igreja é Jesus Cristo e não ele, o Senhor da História é Jesus Cristo e tem que anunciar isso. Em terceiro lugar, tem que ser um bom Bispo: um homem de comunhão, um bom Pastor que se aproxima dos homens, que os ama, que lhes mostra ternura, que os escuta. Em quarto lugar, tem que ser capaz de limpar a cúria romana."
 

A Igreja deve sair à rua

 
A ideia fixa do Cardeal Bergoglio é que a Igreja deve olhar para fora. Ele disse: "uma Igreja introvertida, uma Igreja ocupada consigo própria, é uma Igreja que adoece e para essa doença não há remédio. Uma Igreja que sai à rua, que se encontra com os homens, pode ter acidentes. Mas para esse acidente há remédio e recuperação." E usa como imagem a imagem do Bom Pastor. Disse-nos "Não se esqueçam disto, não estamos aqui para bater nas ovelhas e muitas vezes fazemo-lo, tratamo-las mal, não nos aproximamos delas, somos antipáticos. Estamos aqui para cuidar das ovelhas.

A situação da Igreja deve-se em grande parte a um erro fundamental. Achamos que temos 99 ovelhas no rebanho e há uma ovelha perdida mas é exatamente ao contrário.. E que fazemos? Dedicamo-nos a cuidar da ovelhinha linda que temos no rebanho: damos-lhe banho, penteamo-la, e as 99 nove ficam de fora.” O P. Ángel sublinhou a simplicidade das palavras utilizadas pelo Cardeal. Falou-nos da necessidade de uma “revolução da ternura”: “a ternura melhora o mundo, torna-o menos frio. Precisamos de ser ternos entre nós e com as pessoas.”
 

Grato a Schoenstatt

 
Diria que o Papa está aberto ao Movimento de Schoenstatt?

Neste último encontro disse-nos: “Eu não conheço muito sobre a vossa espiritualidade, mas quero agradecer-vos porque ouço sempre comentários muito positivos sobre a forma como vocês ajudam os sacerdotes e os laicos aqui na diocese.”
O Padre Ángel continuou a falar mencionado uma anedota: Recordo um caso em Buenos Aires de uma senhora do Movimento que tinha uma pergunta que só podia fazê-la ao Cardeal. O próprio Cardeal respondeu à sua chamada e ela nem queria acreditar. O Cardeal falou com ela e no final ela ofereceu-lhe o livro “Crianças perante Deus”. A reação do então Arcebispo de Buenos Aires foi “Minha senhora, que lindo presente me trouxe, aprecio muito Kentenich, vou de certeza ler este livro. Se quiser dar-me mais presentes destes pode fazê-lo”. Ele é tão mariano que nos podemos identificar muito com ele porque nele vemos realizadas muitas coisas programáticas do Pai Fundador: a paternidade espiritual, a proximidade, a amplitude, o espírito mariano. Há muitas coisas nas quais podemos envolver-nos no seu mundo e o mundo dele é tão coerente! Para mim o mais importante é que mudou o cenário da Igreja.
Então, vamos a Roma em 2014?
Estou certo de que nos vai receber com muita alegria.

Original: Espanhol – Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal
 
 


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