Mensagem da Quaresma 2011
“Firma os teus passos. Afirma a tua fé”
1. A caminho da Páscoa, centro do ano litúrgico, e de olhos postos na cidade santa de Jerusalém, para onde subiram os nossos passos, nestes dias de peregrinação diocesana, convido-vos, amados irmãos e irmãs da Diocese de Aveiro, a vivermos a Quaresma, com este espírito de peregrinos, como tempo sempre novo e necessário, precioso e importante para “firmarmos os nossos passos e afirmarmos a nossa fé”.
A Quaresma é sempre tempo privilegiado para fazer surgir em nós uma sintonia maior com as atitudes de Jesus Cristo que a Igreja celebra no Ano Litúrgico, sobretudo no Tríduo Pascal. Constitui a primeira parte de um ciclo longo, sendo a segunda a Páscoa que se prolonga até ao Pentecostes, a festa do envio do Espírito Santo e da missão da Igreja.
Em comunhão com o Santo Padre Bento XVI e no mesmo espírito da mensagem que nos dirige para esta Quaresma, também a nossa Igreja Diocesana quer aproveitar este tempo especial para intensificar os esforços de conversão e de renovação que vem fazendo e ser realmente “Igreja diocesana orante, lugar de esperança para o mundo”.
A oração lugar da aprendizagem da esperança.
2. O lugar da aprendizagem da esperança, o primeiro e essencial, é a oração (Bento XVI, Salvos na Esperança, nº. 32).
A III Etapa do nosso Plano de Pastoral propõe que façamos a descoberta do valor da dimensão litúrgica e celebrativa e da religiosidade popular a fim de encontrarmos o alimento espiritual indispensável. É este alimento que há-de sustentar e dinamizar o processo de formação cristã a todos os níveis e fomentar o empenhamento da caridade cristã na construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
A cultura actual e os dinamismos sócio-económicos tendem a esvaziar o coração humano e a opinião pública dos valores fundamentais à condição humana e à sã convivência social, imbuindo-nos de relativismo e afogando-nos no consumismo. Ilustra bem esta perspectiva o texto de J. A. Pagola: “O consumismo converteu-se na nova religião do homem moderno. As novas superfícies são os novos lugares de culto. Temos de tudo e carecemos de paz e de alegria interior”.
A Quaresma faz-nos uma proposta diferente: atraente pela beleza e mobilizadora pela solidariedade, visa purificar o olhar, elevar o coração, infundir a fortaleza, dominar os excessos e proporcionar alimento aos que têm fome (Prefácio da Quaresma III e IV).
A Quaresma concretiza estes objectivos na escuta atenta e diligente da Palavra de Deus e nas três atitudes cristãs: a oração, o jejum e a partilha. Estas atitudes, bem entendidas, combatem o risco da sedução consumista e o perigo do bem-estar meramente material.
A oração abre-nos a Deus e ao seu projecto de salvação, cria espaço para Ele agir em nós e moldar o nosso coração.
A Vigararia Episcopal da Educação Cristã elaborou e difundiu uma oportuna proposta de Caminhada Quaresma-Páscoa. Tem como lema: “Firma os teus passos. Afirma a tua Fé”; como símbolo, uma cruz; e como guia de oração, “Rezar na Quaresma – Ano A”. E indica uma atitude a promover em cada semana, ao longo de todo o tempo da Quaresma e Páscoa.
Recomendo vivamente esta proposta diocesana, sobretudo nas comunidades paroquiais, nas famílias, nos movimentos apostólicos e em todos os grupos que, desejosos de “sentir com a Igreja”, procuram meios acessíveis a tão nobre propósito.
O jejum é outra expressão de conversão quaresmal, sinal duma forma de viver mais saudável, generosa e solidária. “O jejum, que pode ter diversas motivações, diz-nos o Santo Padre, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa, aprendemos a superar o egoísmo, para viver na lógica da doação e do amor; suportando a privação, aprendemos a desviar o olhar do nosso “eu” e a reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos” (cf. Bento XVI, Mensagem, n.º 3).
A renúncia conduz à partilha de bens que o estilo de vida sóbria e compassiva proporciona. Viver bem e com menos, em condições de justiça e de equidade, é um caminho a percorrer, uma alternativa a fomentar, um dinamismo a introduzir nos hábitos estabelecidos, alterando paradigmas pessoais errados e processos políticos injustos, a fim de evitar convulsões sociais e construir a desejada harmonia social, coesa e funcional.
Convido toda a Diocese a manifestar generosamente este sentido de partilha através da renúncia quaresmal que este ano será distribuída, em partes iguais pela Casa Sacerdotal, em construção, e pela Diocese de S. Tomé e Príncipe, para ajudar esta Igreja irmã nas iniciativas da Escola de Formação de Leigos.
Continuamos, igualmente, a afirmar a necessidade de colaborar com a Cáritas Diocesana através do Fundo de Emergência Social para irmos ao encontro dos que mais sofrem com a crise económica e social que atinge dramaticamente tantas pessoas e famílias das nossas comunidades.
Servir de modo gratuito.
3. A conversão quaresmal deve levar-nos também ao apreço pelo voluntariado que, felizmente, tantas pessoas praticam, oferecendo “à comunidade tempo de gratuidade ao serviço dos outros”, especialmente dos mais abandonados e esquecidos.
Expresso, de modo singular, a minha alegria e o meu apoio aos voluntários missionários, que todos os anos daqui partem, e aos jovens da nossa Diocese que se preparam para tomar parte nas próximas Jornadas Mundiais da Juventude com o Santo Padre, em Madrid.
Todos sabemos que a Quaresma é itinerário e peregrinação que nos conduzem à Páscoa e que a Páscoa é “tempo que não passa e caminho que não termina” (Caminhada Diocesana Quaresma-Páscoa).
Rumo à Páscoa, avancemos fortalecidos pelos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, na esperança de sermos coerentes com o Baptismo que nos faz novas criaturas, filhos de Deus, irmãos em humanidade e servidores de toda a criação, para que em nós renasça o Homem novo à Imagem de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado.
Aveiro, 9 de Março de 2011
+António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro
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