segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um novo ano - Dom de Deus à humanidade


No início deste ano de 2012, transcrevemos a homilia do Sr. Bispo de Aveiro proferida ontem, dia 1 de Janeiro, na Sé Catedral de Aveiro e que podemos considerar como uma Mensagem de Ano Novo.

1. Neste primeiro dia do Ano, na oitava do Natal, a Igreja contempla, sem desviar os olhos de Jesus, Aquela que Deus escolheu para que o mistério da encarnação do Verbo se tornasse possível. O Filho de Deus encarnou, por obra do Espírito Santo, de Maria, sempre virgem, a Mãe de Deus.
Segundo o texto do evangelho, os pastores foram as primeiras testemunhas atentas aos acontecimentos de Belém e os primeiros contemplativos do nascimento do Filho de Deus. «Os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino» (cf. Lc 2, 16-21). A atenção é sempre o melhor caminho para nos aproximarmos do mistério de Deus.
A história da humanidade, no seu percurso, vai-nos mostrando que o céu tem sempre algo a dizer à terra e que o mistério de Deus se manifesta às pessoas de coração atento, disponível e capaz de ver, ler e entender os sinais em que Deus se revela: sinais de luz a iluminar as trevas da noite. Os tempos de crise podem ser, paradoxalmente, tempo de graça mais abundante e de atenção maior aos sinais de Deus.
Os pastores fizeram-se ao caminho para procurar quanto lhes fora anunciado. Encontraram uma Mãe com o seu Filho recém-nascido e José, seu Esposo. Parece-lhes estranho o lugar mas a surpresa face ao ambiente encontrado não tolda nem perturba a alegria sentida diante de uma vida que nasce, envolvida num anúncio cheio de encanto, de beleza e de mistério. Os pastores fazem a experiência tão necessária no nosso tempo, de verem que o céu se abre sobre a terra, a sua terra, e que por isso torna esta terra abençoada e cheia de luz e de verdade. A experiência dos pastores é a experiência dos contemplativos de Deus e dos peregrinos dos lugares santos de hoje; é a experiência de quantos procuram, encontram e contemplam o amor de Deus e o sentem espelhado em tantos corações humanos e solidários; é a experiência dos que vivem a alegria da fé e a comunicam aos outros com entusiasmo; é a experiência dos que sentem a sua força e confiança alicerçadas em Deus, mesmo quando vacilam as seguranças humanas e se desfazem as certezas do mundo; é a experiência dos que se sabem filhos de Deus, herdeiros da vida e construtores da felicidade, como nos diz S. Paulo, na Carta aos Gálatas, da segunda leitura.

2. Maria conservava e meditava tudo no seu coração de Mulher e de Mãe, para acolher em si o mistério de Deus, que, dia a dia, até ao fim dos tempos, melhor do que ninguém, ela nos sabe revelar. Uma das dificuldades maiores em tempo de pressa, de relativismo de valores e de superficialidade das razões de viver, como é o nosso tempo, é a falta de paz interior, de disponibilidade de escuta e de atenção, de tempo para acolher cada pessoa como um dom e um irmão e de espaços para meditar os mistérios de Deus.
No seu silêncio de Mãe, que ouve sem perguntar e que fala sem dizer palavras, como só as Mães sabem fazer, Maria conduz a história da Igreja e é bênção para o povo cristão e para a humanidade. Invocámo-la neste primeiro dia do Ano para que abençoe a Igreja de Aveiro e o tempo que nos é dado viver e dele faça um tempo de justiça e de paz, de bênção e de graça, de saúde e de esperança, um verdadeiro tempo de bem-aventurança.

3. É de justiça e de paz, também, o anúncio que da Igreja se espera todos os dias, ainda mais nestes tempos perturbados pelas asperezas do caminho da humanidade e pelas incertezas quanto ao seu futuro, concretamente na Europa. Há quarenta e cinco anos que nos habituamos a celebrar o primeiro Dia de cada ano como Dia Mundial da Paz. A mensagem do Santo Padre Bento XVI para este Dia centra-se nos Jovens a quem urge educar para a Justiça e para a Paz. As recentes Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid, vividas com o Santo Padre, vieram dizer uma vez mais ao Mundo, como é firme e bela a fé dos jovens e como eles desejam ser testemunhas de Jesus Cristo. A crise social e cultural que vivemos só se pode vencer se deixarmos velhas questões e erros antigos e soubermos olhar o futuro com a confiança e a capacidade de sonho, de verdade, de unidade e de coragem de que os jovens de hoje dão provas. E para o fazermos precisamos todos de dar mais espaço aos jovens na decisão do nosso futuro comum e mais valor à família como berço natural da vida, primeira escola de educação e necessário espaço do despertar religioso e do crescimento na fé das crianças e dos jovens.
Nesta etapa pastoral, que a nossa Diocese centra na família, quero realçar com muita alegria a palavra do Santo Padre, que na sua mensagem nos fala da família e da sua importância. São estas as palavras do Santo Padre:
“Os pais são os primeiros educadores. A família é célula originária da sociedade. «É na família que os filhos aprendem os valores humanos e cristãos que permitem uma convivência construtiva e pacífica. É na família que aprendem a solidariedade entre gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro». Esta é a primeira escola onde se educa para a justiça e para a paz.
Vivemos num mundo em que a família e até a própria vida se vêem constantemente ameaçadas e não raro destroçadas…Queria dizer aos pais para não desanimarem! Com o exemplo da sua vida, induzam os filhos a colocar a esperança antes de tudo em Deus, o único de quem surgem a justiça e a paz” (cf. Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2012 ).
É como família que queremos viver este ano que agora começa, numa Igreja diocesana, fraternidade de famílias, que confirma a esperança nesta nossa terra de Aveiro, significada neste pedaço de terra que hoje colocamos no presépio. Queremos colocar-nos, também nós, ao serviço dos outros e particularmente ao serviço das famílias, ao serviço daqueles que se preparam para constituir novas famílias e ao serviço mais solícito, acolhedor e compreensivo de tantas famílias a viver momentos de sofrimento e de provação.
4. Iniciaremos em Outubro próximo, neste mesmo ano que hoje começa, a Missão Jubilar Diocesana, na celebração dos 75 anos da restauração da nossa Diocese. Será um tempo de graça, de alegria e de bênção, desde há muito esperado e sonhado, a mobilizar-nos a todos para o anúncio feliz e festivo de Jesus, o Filho de Deus. É tempo para evangelizar, para celebrar e para servir. Todos somos necessários e todos nos sabemos chamados e sentimos convocados para a missão.
Neste mesmo espírito de Missão, são mobilizadoras e oportunas as palavras da Mensagem do Santo Padre para este Dia: “Olhemos o futuro com maior esperança, diz o Santo Padre, encorajemo-nos mutuamente ao longo do nosso caminho, trabalhemos para dar ao nosso mundo um rosto mais humano e fraterno e sintamo-nos unidos na responsabilidade que temos para com as jovens gerações, presentes e futuras (cf. Mensagem Bento XVI).

5. Com a bênção de Santa Maria, Mãe de Deus, e pela intercessão de Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, desejo para todos os diocesanos(as) e para todas as nossas famílias um abençoado Ano de 2012.

Sé de Aveiro, 1 de Janeiro de 2012

António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro

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