domingo, 8 de dezembro de 2013

Espírito das indulgências e espiritualidade da Aliança de Amor


1. Indulgências e o Jubileu

A celebração do jubileu traz também consigo as graças próprias do jubileu: a conversão e o perdão, a fé e a santificação, a renovação e o compromisso. É um tempo da abundância dos dons de Deus que nos oferece a salvação e a possibilidade de começar de novo.
A Igreja é guardiã do tesouro de graças que Jesus lhe confiou e em cada jubileu, alegra-se por poder oferecer aos seus filhos as portas abertas do perdão. A indulgência é expressão disso mesmo e por isso, em primeiro lugar, é uma dádiva de Deus que se aproxima de nós para nos renovar.
Como sinal dessa misericórdia de Deus e da possibilidade de começar de novo, alegramo-nos que o Santo Padre tenha concedido indulgência plenária associada às celebrações do nosso jubileu.
"O Santo Padre desejando, através da fé na divina graça, e movido pelo amor à Igreja universal e pelo especial afeto aos membros da Obra Internacional de Schoenstatt, gentilmente concede uma Indulgência Plenária..." (do decreto, 2.10.13)
 
2. Indulgências e santidade quotidiana

Para descobrir o sentido profundo da prática das indulgências, evitar a mera realização de actos para ganhar esse dom, e sobretudo, para encontrar nelas uma oportunidade para percorrer caminhos de santidade, gostaria de destacar alguns aspectos fundamentais e pastorais, de acordo ao Manual das Indulgências, editado a pedido da conferência episcopal portuguesa, em Julho de 2013.
O espírito que orientou a reforma das indulgências no Vaticano II procurou estimular os cristãos à santidade, de tal modo que as suas orações e obras não fossem apenas consideradas para satisfazerem pelas penas merecidas pelos pecados mas também, e principalmente, fossem um estímulo a um maior fervor da caridade. (Cfr. preliminares, 2)
A concessão da indulgência está associada a várias obras de piedade particular e pública, bem como a obras de caridade e penitência, qualquer outra boa obra e todo o sofrimento pacientemente suportado. (idem, 3)
Há assim uma intenção clara em unir a prática das indulgências à vida quotidiana dos fieis, de modo a induzir cristão a tornar a sua vida mais útil e mais santa, eliminando, como diz GS43 «o divórcio que se encontra em muitos entre a fé que professam e a sua vida quotidiana ... e unindo numa sínteses vital os esforços humanos, domésticos, profissionais, científicos ou técnicos com valores religiosos, sob cuja altíssima direcção tudo se orienta para glória de Deus».
Por isso, a Penitenciária Apostólica teve a preocupação de dar mais importância à vida cristã e de levar as almas, mais do que à repetição de fórmulas ou práticas, ao espírito de oração e de penitência e ao exercício das virtudes teologais. (idem, 4)

É nesse sentido que no manual referem-se em primeiro lugar quatro concessões de carácter mais geral, que podem iluminar a vida quotidiana do cristão, sempre que ele vive estas situações com fé. Assim, o fiel é convidado a imprimir o espírito cristão nas acções com que a sua vida quotidiana, é por assim dizer, entremeada, e a tender, no seu estado de vida, à perfeição da caridade.

A) No cumprimento dos seus deveres e ao suportar as dificuldades da vida ....
B) No serviço aos irmãos necessitados
C) Na prática da penitência
D) No testemunho de fé nas circunstâncias da vida quotidiana

Para além destas concessões, o manual apresenta muitas outras, relacionadas com orações e devoções, celebrações de santos ou dias litúrgicos especiais, bem como ou outras praticas da piedade cristã.
Todas estas concessões se complementam mutuamente e, enquanto com o dom da indulgência convidam os fiéis a praticar obras de piedade, caridade e penitência conduzem-nos a unir-se mais intimamente, por meio da caridade, a Cristo e o seu corpo místico, a Igreja. (Outras concessões, 2)
 
3. Espiritualidade da Aliança

No Santuário de Schoenstatt, Nossa Senhora convida-nos a selar com ela uma Aliança de Amor, para formar em cada um de nós o "santo da vida diária", aquele cristão que vive a união entre fé e a sua vida quotidiana.
No dia 18.10.1914, no documento de fundação, é claro o seu pedido para aspirarmos a esta santidade, vivida nas circunstâncias da vida concreta, no cumprimento fiel do nosso dever de estado e numa zelosa vida de oração.
Tudo isso se expressa no "capital de graças", o oferecimento das nossas boas obras e sacrifícios, da nossa vida de oração e do testemunho como cristãos. Assim rezamos com o P. Kentenich:
 
Tudo o que levo em mim,
o que suporto,
o que digo e o que arrisco,
o que penso e o que amo,
os méritos que obtenho,
o que dirijo e conquisto,
o que me causa sofrimento e alegria:
o que sou e o que tenho,
te ofereço como dom de amor
para a fonte santa de graças
que do Santuário brota cristalina,
para inundar as almas
dos que dão a Schoenstatt o seu coração
e encaminhar bondosamente para lá
os que, por misericórdia, queres escolher;
e para que frutifiquem as obras
que consagramos à Santíssima Trindade. (RC.16)

Desta forma, pelos méritos da nossa santificação, estamos a contribuir para a fecundidade do tesouro de graças do Santuário e a colaborar na santificação dos membros do Corpo místico de Cristo, em solidariedade uns com os outros. 

Estou tão intimamente ligado aos meus,
que nos sentimos sempre uma unidade:
eu vivo e sustento-me da sua santidade
e com alegria estou disposto a morrer por eles.(RC 470)
 
Estou tão intima e fielmente unido a eles
que dentro de mim uma voz me diz sempre:
O teu ser e a tua vida reflectem-se neles,
determinam o seu infortúnio ou aumentam a sua felicidade. (RC 471)
 
Se no ser e na vida nos assemelharmos a Cristo,
podemos estender as mãos uns aos outros:
a santidade de um favorece a todos os outros
através do sangue do Senhor. (RC 489)
 
Esta santificação faz parte do apostolado
e ajuda a inflamar o zelo apostólico.
É um vinculo potente, indestrutível,
que nos mantém unidos através de cidades e campos. (RC 492) 

Tal como expressa o lema da Aliança – nada sem Ti, nada sem nós – todo o cristão pode colaborar na redenção, na obra de purificação e santificação própria ou dos membros do corpo místico. Isto, sempre como participação e em união com a obra salvífica realizada por Jesus.
 
4. Aplicações pastorais
 
A concessão de indulgências no Santuário de Schoenstatt, durante o ano jubilar, para além de ser um gesto de reconhecimento e afecto por parte do Santo Padre, é um estímulo a vivermos ainda mais conscientemente a espiritualidade de Aliança, a colaborar com generosidade ao capital de graças e a aspirar à santidade da vida diária.
No espírito do capital de graças, valorizamos a oferta dos nossos méritos, e das indulgências, em favor dos defuntos, acentuando a solidariedade fraterna.
Somos ainda convidados a peregrinar ao santuário mais vezes e com mais espírito de fé para a verdadeira conversão e santificação porque o santuário é o lugar privilegiado para a celebração do jubileu e também para receber as indulgências.
Nesse sentido, também podemos beber mais abundantemente das graças próprias do Santuário de Schoenstatt, que são uma permanente ajuda na nossa peregrinação diária, rumo ao céu: o acolhimento no coração de Deus, a transformação interior e o envio apostólico.
O Movimento em geral e a Pastoral do Santuário em particular, ao longo deste ano, pode promover iniciativas para a celebração do jubileu, tem uma oportunidade para fomentar a espiritualidade da Aliança, anunciar a mensagem do Santuário e dar a conhecer as suas graças específicas que poderão ser publicadas juntamente com decreto das indulgências e sua explicação.
 

16 de Novembro de 2013. Padre José Melo

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