HOMILIA NA EUCARISTIA DA PEREGRINAÇÃO DIOCESANA
Santuário de Nossa Senhora de Schöenstatt, 23 de Outubro de 2011
1.Reunimo-nos em Peregrinação diocesana ao Santuário de Schöenstatt, em dia de Domingo, vivido como dia particularmente dedicado ao Senhor. Foi no dia primeiro da semana que Jesus ressuscitou e que o Pentecostes aconteceu.
O domingo é também o dia da família reunida, da comunidade congregada, dos movimentos apostólicos convocados para a missão. Não esqueçamos no viver de cada dia e no horizonte da nossa formação a centralidade que nesta IV.ª etapa do nosso Plano Diocesano de Pastoral, e neste caminho rumo ao Jubileu da nossa Diocese, queremos dar à família, como verdadeira igreja doméstica, santuário de amor e espaço abençoado pra se escutar o evangelho da vida. Queremos ser Igreja diocesana, fraternidade de famílias que confirma a esperança. Vive o Movimento de Schöenstatt também a preparação do centenário da sua fundação. É com este mesmo e comum espírito jubilar que vivemos esta peregrinação e acolhemos o seu lema: «Família-Santuário vivo-esperança no mundo».
Esta peregrinação interpela-nos e deve abrir-nos caminhos para que as famílias também aqui encontrem no santuário pela graça que Maria nos oferece os necessários e tantas vezes procurados lugares de acolhimento, de transformação interior e de esperança reconfortante. Os santuários são cada vez mais espaços privilegiados para a evangelização e para a construção de uma cultura de esperança, em que o sonho de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno seja desde já visível. Os «santuários são, no dizer do Padre Kentenich, lâmpadas acesas, são jardins de alegria e faróis de verdade. São presença de Deus que caminha connosco, irradiando esperança».
2.Celebra a Igreja hoje o Dia Mundial das Missões. O Santo Padre Bento XVI dirige-nos uma bela e oportuna mensagem, desenvolvida a partir da palavra de Jesus: «Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós» (Jo 20,21).
Lembra-nos o Santo Padre e sabemo-lo todos que o «anúncio incessante do evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor e o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais para que sejam cada vez mais apropriados às novas situações: A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos também encontrará inspiração e apoio no empenho pela missão universal».
A tarefa de evangelizar não perdeu a sua urgência. Evangelizar é a graça e a missão da própria Igreja. A Igreja não pode fechar-se sobre si mesma. Enraíza-se em determinados lugares para ir mais além. E esta missão empenha todos, tudo e sempre. O evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas constitui uma dádiva a compartilhar, uma boa notícia a comunicar.
Que o «Dia Mundial das Missões, conclui o Santo Padre a sua mensagem, reavive em cada um de nós o desejo e a alegria de «ir» ao encontro da humanidade levando Cristo a todos».
3.Foi assim, irmãos e irmãs, que aconteceu no Pentecostes, o primeiro dia missionário, em que Pedro fortalecido pelos dos do Espírito Santo e como porta voz de todos os discípulos reunidos com Maria, Mãe de Jesus, no Cenáculo sai para a cidade e vai ao encontro da humanidade ali presente anunciar Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
É assim que acontece hoje, quando convocados pelo Senhor e reunidos em nome de Cristo sentimos o apelo à evangelização e saboreamos a força de o fazer. «Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós» ( Jo 20, 21). Esta nossa peregrinação deve ter este horizonte e beber da fonte inspiradora deste dinamismo missionário, consolidando os grupos que somos e alargando a novas fronteiras e abrindo mais caminhos de missão.
4.Vem ao encontro desta urgência e desta pedagogia de uma nova evangelização a própria Palavra de Deus que hoje escutamos. S. Paulo escreve à comunidade de Tessalónica. Esta comunidade aprendeu a percorrer com Cristo e com Paulo o caminho do amor e o dom da vida. Apesar das hostilidades e das perseguições. O exemplo de Paulo cumprido na alegria e na dor tornou-se verdadeira semente de fé e de amor, que deu frutos noutras comunidades cristãs do seu tempo (cf 1 Tes 1, 5-10).
Também o nosso testemunho de um cristianismo vivido com alegria e generosidade pode e deve ser semente de evangelização levando em tudo, a todos e sempre a boa nova de Jesus Cristo.
Esta boa nova de Jesus está caldeada e impregnada dos seus ensinamentos e está expressa nesta bela síntese do evangelho de hoje. «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito. Este, é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos se resumem a Lei e os Profetas» ( Mat 22, 37-40). Trata-se de um verdadeiro equilíbrio de amor, o poder amar, sem ser culpado, este amor por si próprio, que no entanto não é roubado a ninguém, este amor aos outros que não diminui nem violenta o próprio eu.
À luz desta mensagem de Jesus compreendemos ainda melhor o texto da primeira leitura em que a palavra do Senhor nos interroga e interpela sobre o nosso modo de cuidar com amor igual dos mais frágeis, dos mais pobres e dos mais humildes. (Ex 22, 20-26).
No tempo do Êxodo e no tempo de Jesus vivia-se numa sociedade de desiguais, em que muitas vezes a discriminação se institucionalizava e em que o padrão da vida era o individualismo. A fé em Deus e o amor para com o próximo expressos na resposta dada por Jesus, na advertência do autor do livro do êxodo e no testemunho exemplar de Paulo e da comunidade de Tessalónica abrem-nos a esta tríplice dimensão: para com Deus, para com os outros e para connosco próprios. Do amor primeiro para com Deus nasce este amor inquieto para com os irmãos que nos leva a fazer do anúncio do evangelho uma missão e do amor aos irmãos uma urgência e um serviço. É um amor de doação de todos, em tudo e sempre, que faz de cada gesto um reforço do crescimento pessoal e uma expressão de solidariedade fraterna.
Este amor impresso na resposta de Jesus é a força da missão, que neste domingo e nesta nossa Peregrinação se celebra com especial atenção e solicitude.
5- Que Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, que aqui nos acolhe como educadora da fé e medianeira de todas as graças, ilumine todas as famílias para que encontrem forças para se tornarem cada vez mais um santuário de amor e as abençoe neste caminho de missão, de fidelidade e de alegria e de esperança.
+António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro
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