A 10 de
Fevereiro de 1975 foi aberto o processo de beatificação e canonização do Padre
Kentenich na cidade de Tréveris.
Entrevista ao Padre
Angel L. Strada, postulador do processo de canonização do Pe. Kentenich
A
jornalista Patricia Navas, Espanha, entrevistou o Padre Angel L. Strada para a
agência de notícias espanhola Veritas. Na sua entrevista, o P. Angel
Strada informa o estado atual do processo e o que ainda precisa ser
feito.
Qual é o estado atual
do processo de canonização do Fundador de Schoenstatt?
O
processo foi iniciado na diocese de Tréveris em 10 de Fevereiro de 1975, sete
anos após a morte do Padre Kentenich. Nos últimos anos reuniram-se muitos
sinais da sua fama de santidade. Milhares de pessoas radicadas em 88
países nos cinco continentes, testemunharam que recorreram à sua intercessão e
norteiam-se pelo seu exemplo de vida. Os numerosos escritos publicados foram
examinados por quatro especialistas em teologia, que afirmaram que neles não
encontraram nada contra os dogmas e a moral da Igreja. Mais de uma centena de
testemunhas depuseram perante o tribunal eclesiástico. Isto é de
particular importância, uma vez que o objetivo é o processo de verificação da
vida e das virtudes heroicas do Servo de Deus. As testemunhas são questionadas
sobre as memórias e vivências que tiveram em contato direto, em muitos casos,
por décadas, com o Pe. Kentenich. Podem manifestar-se a favor ou contra,
interpelar as perguntas e fornecer a documentação, etc.
Isto é
de particular importância, uma vez que o objetivo é o processo de verificação
da vida e das virtudes heroicas do Servo de Deus. As testemunhas são
questionadas sobre as memórias e vivências que tiveram em contato direto, em
muitos casos, por décadas, com o Pe. Kentenich. Podem manifestar-se a favor ou
contra, interpelar as perguntas e fornecer a documentação, etc.
Nos
últimos anos, o trabalho centrou-se na recolha e avaliação de documentos
escritos inéditos, cartas escritas por ele e a ele dirigidas, documentos
pessoais, conferências e retiros não editados, etc. A responsabilidade de
liderança desta tarefa estava a cargo de uma comissão de especialistas em
história da Igreja e em arquivos. O grande número destes escritos exigiu muito
tempo e energia. Em mais de 110 arquivos eclesiásticos e civis foi necessário
documentação. Tanto para os arquivos como para os testemunhos foi levado em
consideração os locais onde o Padre Kentenich viveu ou desenvolveu sua
atividade pastoral: Alemanha, Roma, Suíça, EUA, Brasil, Chile, Argentina,
Uruguai, África do Sul. Agora faltan poucos procedimentos para a conclusão da
fase diocesana do processo. Depois, seguir-se-á a fase de definição em Roma. É
impossível prever quando este processo acabará. Entre outras razões porque é
preciso um milagre para a beatificação. E ninguém pode "organizar" um
milagre, somente o podemos implorar.
Quais são os
principais obstáculos que estão a prolongar o processo?
39 anos
de decurso não é necessariamente muito longo para a causa de beatificação de um
confessor. As causas dos mártires, em geral, levam menos tempo e não se lhes
exige um milagre. Não se devem usar como medida causas como a da Madre Teresa
de Calcutá ou de Mons. Escrivá de Balaguer, que, por várias razões, duraram
relativamente poucos anos. No caso do Padre Kentenich influenciou a sua longa
vida de 82 anos, a enorme quantidade de documentos, o seu confronto com o
Nacional-socialismo, os quase quatro anos de prisão no campo de concentração de
Dachau, as dificuldades que ele teve com a sua própria comunidade dos Padres
Palotinos, 14 anos de sua separação da Fundação impostas pelo então chamado
Santo Ofício, em seguida, as propostas pastorais e teológicas que fez
antecipando-se ao Concílio Vaticano II, etc. Muitas destas questões têm exigido
uma investigação longa e minuciosa.
Também
houve dificuldades nos trâmites do processo em si que começou quando estava em
vigor a legislação anterior e que foi alterada em 1983. Este facto, forçou
praticamente a um novo começo. A diocese de Tréveris levou vários anos para
nomear um sucessor do primeiro Delegado Episcopal, que morreu repentinamente. O
sucessor padeceu de várias doenças, que o impediu de dedicar-se integralmente a
esta causa. Também até agora não houve nenhum milagre por intercessão do Pe.
Kentenich. Um milagre normalmente influencia a aceleração do processo de
virtudes.
Qual seria o benefício
para a Igreja?
"Os
santos, também os anónimos, são o maior êxito da Igreja", disse
recentemente o Cardeal Lustiger. Na verdade, eles são a demonstração clara de
que os valores do Evangelho são realizáveis e não se reduzem a uma mera
declaração de bons princípios ou ideais inatingíveis. Cristo proclamou que a
sua missão consistia em dar-nos vida e vida em abundância. Podemos acreditar em
tal vida, se ninguém e nunca se manifestou poderoso? Na vida dos santos é
visível o poder transformador da graça. Os seus temperamentos são muito
diferentes, bem como as suas missões específicas e os seus contextos culturais.
Mas eles compartilham o seguimento incondicional de Cristo. De muitas maneiras
nos é aberto o acesso ao Evangelho e, através dos exemplos lá contidos,
sentimo-nos encorajados a vivê-los.
A Igreja
se beneficia cada vez que mostra alguém que reflete de forma transparente o
amor, a solidariedade, a veracidade, a bondade, a simplicidade de Jesus Cristo.
A Igreja não deve reduzir a sua mensagem ao anúncio das verdades de fé ou
normas morais. Deve apresentar, acima de tudo, exemplos convincentes de vidas
concordantes com o Evangelho. "A vida ilumina-se na vida", dizia
o Pe. Kentenich. Quanto devemos a Paulo de Tarso, a Francisco de Assis, a
Teresa de Ávila, a Inácio de Loyola...! Mas, também, quanto devemos a testemunhos
simples os quais, através das suas palavras e obras, nos transmitiram a
fé! Uma Igreja sem santos - os famosos e anónimos - seria uma Igreja
pobre.
Claro
que é necessário evitar uma "inflação de canonizações" e que a
quantidade é algo secundário. Seria desejável a canonização de cristãos
contemporâneos, especialmente os leigos. Neste sentido, destacamos os processos
de canonização do arquiteto espanhol António Gaudi, do político francês Robert
Schuman, do chileno engenheiro Mario Hiriart, do pai de família brasileiro João
Pozzobon.
Quais foram as
contribuições originais do Pe. Kentenich?
"Os
santos são a resposta de cima às perguntas de baixo", disse certa vez Hans
Urs von Balthasar. Hoje temos muitas perguntas, porque estamos numa época de
mudanças rápidas, profundas e globais. As contribuições do Padre Kentenich são
muitas, mas uma delas é precisamente a aceitação dos desafios do mundo atual.
“A mão no pulso do tempo e o ouvido no coração de Deus" define a sua
pessoa e a sua ação pastoral. O Padre Kentenich não se refugiou na denúncia dos
males presentes, não alimentou a nostalgia dos tempos passados, não anunciou um
futuro utópico. Como Fundador do Movimento de Schoenstatt procurou educar para
a liberdade, para que cada pessoa tome consciência de sua originalidade e seja
sujeito de sua própria história em abertura ao Deus da vida e em solidariedade
com os outros. Deste modo, denunciou o perigo da massificação. Desde muito cedo
se opôs ao regime de Hitler, cuja consequência lhe acarretou três anos e oito
meses de prisão no campo de concentração de Dachau.
Outra
contribuição significativa é o reconhecimento dos laços humanos como meios para
alcançar um profundo vínculo com Deus. Para incentivar a vivência de um
cristianismo capaz de integrar o humano e o divino declarava que "o homem
mais sobrenatural, deve ser o mais natural".
Já em
1920, pregava que o santo de hoje é o santo da vida diária. A fé não está
separada da vida familiar, do trabalho, da amizade, das preocupações
económicas, da arte e da política. Devemos construir pontes entre a realidade
quotidiana e a realidade sobrenatural. O aperfeiçoamento para o encontro com o
Deus da vida e da história foi a grande paixão do Pe. Kentenich. A sua própria
experiência e os longos anos de acompanhamento espiritual de milhares de homens
e mulheres conduziram-no à criação de uma pedagogia e de uma espiritualidade
adequada para o momento atual.
A figura
de Maria destaca-se através da veneração do Padre Kentenich. Ninguém como Ela
deu maior exemplo de seguimento de Cristo perante as circunstâncias da vida
diária. Ninguém entre os redimidos teve maior abertura aos desejos de Deus Pai
e ninguém foi tão solidária perante os seus semelhantes. O encontro com Maria é
o encontro com os valores que, hoje, são necessários para um testemunho
credível, autêntico e cristão.
O Padre
Kentenich estava convencido - tal como João Paulo II – de que Maria tem a tarefa
de incutir nos corações dos homens e nas culturas dos povos as características
de Cristo. Desde jovem selou um pacto de amor com Maria e colocou-se à sua
disposição. Maria educou-o no seguimento de Cristo e encarregar-se-á que as
suas contribuições para a Igreja sejam fecundas.
Fonte: http://www.pater-kentenich.org/pt/canonizacao/
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