Missão País
Hoje, dia 21 de Outubro a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões. Porque no Movimento de Schoenstatt, no caminho Rumo a 2014, entrámos no dia 18 de Outubro de 2012, no Ano da Corrente Missionária, ou Ano da Missão e também porque hoje na Diocese de Aveiro se inicia a Missão Jubilar, que visa comemorar os 75 anos da restauração da Diocese de Aveiro, achamos oportuno publicar a mensagem que o Papa Bento XVI publicou alusiva a este dia.
«Chamados a
fazer brilhar a Palavra da verdade» (Carta ap. Porta fidei, 6)
Queridos
irmãos e irmãs!
Neste
ano, a celebração do Dia Mundial das Missões reveste-se dum significado muito
particular. A ocorrência do cinquentenário do inicío do Concílio Vaticano II, a
abertura do Ano da Fé e o Sínodo dos Bispos cujo tema é a nova evangelização
concorrem para reafirmar a vontade da Igreja se empenhar, com maior coragem e
ardor, na missio ad gentes,
para que o Evangelho chegue até aos últimos confins da terra.
Com
a participação dos Bispos católicos vindos de todos os cantos da terra, o
Concílio Ecuménico Vaticano II constituiu um sinal luminoso da universalidade
da Igreja pelo número tão elevado de Padres conciliares que nele se congregou,
pela primeira vez, provenientes da Ásia, da África, da América Latina e da
Oceânia. Tratava-se de Bispos missionários e Bispos autóctones, Pastores de
comunidades disseminadas entre populações não-cristãs, que trouxeram para a
Assembleia conciliar a imagem duma Igreja presente em todos os continentes e se
fizeram intérpretes das complexas realidades do então chamado «Terceiro Mundo».
Enriquecidos com a experiência própria de Pastores de Igrejas jovens e em vias
de formação, apaixonados pela difusão do Reino de Deus, eles contribuíram de
maneira relevante para se reafirmar a necessidade e a urgência da evangelização ad gentes e, consequentemente, colocar no centro
da eclesiologia a natureza missionária da Igreja.
Eclesiologia
missionária
Hoje
uma tal visão não esmoreceu; antes, tem conhecido uma fecunda reflexão
teológica e pastoral e, ao mesmo tempo, repropõe-se com renovada urgência,
porque aumentou o número daqueles que ainda não conhecem Cristo. «Os homens, à
espera de Cristo, constituem ainda um número imenso», afirmava o Beato João
Paulo II na Encíclica Redemptoris Missio sobre a validade permanente do mandato
missionário; e acrescentava: «Não podemos ficar tranquilos, ao pensar nos
milhões de irmãos e irmãs nossas, também eles redimidos pelo sangue de Cristo,
que ignoram ainda o amor de Deus» (n. 86). Por minha vez, ao proclamar o Ano da
Fé, escrevi que Cristo «hoje, como outrora, envia-nos pelas estradas do mundo
para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra» (Carta ap. Porta
fidei, 7). E esta proclamação – como referia o Servo de Deus Paulo VI,
na Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi – «não é para a
Igreja uma contribuição facultativa: é um dever que lhe incumbe, por mandato do
Senhor Jesus, a fim de que os homens possam acreditar e ser salvos. Sim, esta
mensagem é necessária; ela é única e não poderia ser substituída» (n. 5). Por
conseguinte, temos necessidade de reaver o mesmo ímpeto apostólico das
primeiras comunidades cristãs, que, apesar de pequenas e indefesas, foram
capazes, com o anúncio e o testemunho, de difundir o Evangelho por todo o mundo
conhecido de então.
Por
isso não surpreende que tanto o Concílio Vaticano II como o Magistério
sucessivo da Igreja insistam, de modo especial, sobre o mandato missionário que
Cristo confiou aos seus discípulos e que deve ser empenho de todo o Povo de
Deus: Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e leigos. O cuidado
de anunciar o Evangelho em toda a terra compete, primariamente, aos Bispos
enquanto responsáveis directos da evangelização no mundo, quer como membros do
Colégio Episcopal, quer como Pastores das Igrejas particulares. Efectivamente,
eles «foram consagrados não apenas para uma diocese, mas para a salvação de
todo o mundo» (João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Missio, 63), sendo o Bispo «um pregador da fé, que conduz a Cristo novos discípulos» (Ad Gentes, 20) e «torna presentes e como que palpáveis o espírito e o
ardor missionário do Povo de Deus, de maneira que toda a diocese se torna
missionária» (Ibidem, 38).
A
prioridade da evangelização
Assim,
para um Pastor, o mandato de pregar o Evangelho não se esgota com a solicitude
pela porção do Povo de Deus confiada aos seus cuidados pastorais, nem com o
envio de qualquer sacerdote, leigo ou leiga fidei
donum. O referido mandato deve envolver toda a actividade da Igreja
particular, todos os seus sectores, em suma, todo o seu ser e operar: indicou-o
claramente o Concílio Vaticano II, e o Magistério sucessivo reiterou-o com
vigor. Isto exige que estilos de vida, planos pastorais e organização diocesana
se adeqúem, constantemente, a esta dimensão fundamental de ser Igreja,
sobretudo num mundo como o nosso em contínua transformação. E o mesmo vale para
os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e também
para os Movimentos eclesiais: todos os elementos que compõem o grande mosaico
da Igreja devem sentir-se fortemente interpelados pelo mandato de pregar o
Evangelho para que Cristo seja anunciado em toda a parte. Nós, Pastores, com os
religiosos, as religiosas e todos os fiéis em Cristo, devemos seguir as pegadas
do apóstolo Paulo, o qual, «prisioneiro de Cristo pelos gentios» (Ef 3, 1), trabalhou, sofreu e lutou para
fazer chegar o Evangelho ao meio dos gentios (cf. Col 1, 24-29), sem poupar energias, tempo
e meios para dar a conhecer a Mensagem de Cristo.
Também
hoje a missão ad gentes deve ser o horizonte constante e o
paradigma de toda a actividade eclesial, porque a própria identidade da Igreja
é constituída pela fé no Mistério de Deus, que se revelou em Cristo para nos
dar a salvação, e pela missão de O testemunhar e anunciar ao mundo até ao seu
regresso. Como São Paulo, devemos ser solícitos pelos que estão longe, por
quantos ainda não conhecem Cristo nem experimentaram a paternidade de Deus,
conscientes de que «a cooperação se alarga hoje para novas formas, não só no
âmbito da ajuda económica mas também no da participação directa» na
evangelização (João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Missio, 82). A celebração do Ano da Fé e do Sínodo dos Bispos sobre a nova
evangelização serão ocasiões propícias para um relançamento da cooperação
missionária, sobretudo nesta segunda dimensão.
Fé
e anúncio
O
anseio de anunciar Cristo impele-nos também a ler a história para nela
vislumbrarmos os problemas, aspirações e esperanças da humanidade que Cristo
deve sanar, purificar e colmatar com a sua presença. De facto, a sua Mensagem é
sempre actual, penetra no próprio coração da história e é capaz de dar resposta
às inquietações mais profundas de cada homem. Por isso a Igreja, em todos os
seus componentes, deve estar ciente de que «os horizontes imensos da missão
eclesial e a complexidade da situação presente requerem hoje modalidades
renovadas para se poder comunicar eficazmente a Palavra de Deus» (Bento XVI,
Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 97). Isto exige, antes de mais, uma renovada adesão de fé
pessoal e comunitária ao Evangelho de Jesus Cristo, «num momento de profunda
mudança como este que a humanidade está a viver» (Carta ap. Porta
fidei, 8).
Com
efeito, um dos obstáculos ao ímpeto da evangelização é a crise de fé, patente
não apenas no mundo ocidental mas também em grande parte da humanidade, que no
entanto tem fome e sede de Deus e deve ser convidada e guiada para o pão da
vida e a água viva, como a Samaritana que vai ao poço de Jacob e fala com
Cristo. Como narra o Evangelista João, o caso desta mulher é particularmente
significativo (cf. Jo 4, 1-30): encontra Jesus, que começa
por lhe pedir de beber mas depois fala-lhe duma água nova, capaz de apagar a
sede para sempre. Inicialmente a mulher não entende, detém-se ao nível
material, mas lentamente é guiada pelo Senhor fazendo um caminho de fé que a
leva a reconhecê-Lo como o Messias. E a este propósito afirma Santo Agostinho:
«Depois de ter acolhido no coração Cristo Senhor, que mais poderia fazer
[aquela mulher] senão deixar ali o cântaro e correr a anunciar a boa nova?» (In
Ioannis Ev.,15, 30). O encontro com Cristo como Pessoa viva que sacia a
sede do coração só pode levar ao desejo de partilhar com os outros a alegria
desta presença e de a dar a conhecer para que todos a possam experimentar. É
preciso reavivar o entusiasmo da comunicação da fé, para se promover uma nova
evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão
a perder a referência a Deus, e deste modo voltarem a descobrir a alegria de
crer. A preocupação de evangelizar não deve jamais ficar à margem da actividade
eclesial e da vida pessoal do cristão, mas há-de caracterizá-la intensamente,
cientes de sermos destinatários e ao mesmo tempo missionários do Evangelho. O
ponto central do anúncio permanece sempre o mesmo: o Kerigma de Cristo morto e ressuscitado pela
salvação do mundo, o Kerigma do amor absoluto e total de Deus por
cada homem e cada mulher, cujo ponto culminante se situa no envio do Filho
eterno e unigénito, o Senhor Jesus, que não desdenhou assumir a pobreza da
nossa natureza humana, amando-a e resgatando-a do pecado e da morte por meio da
oferta de Si mesmo na cruz.
A fé
em Deus, neste desígnio de amor realizado em Cristo é, antes de mais, um dom e
um mistério que se há-de acolher no coração e na vida e pelo qual se deve
agradecer sempre ao Senhor. Mas a fé é um dom que nos foi concedido para ser
partilhado; é um talento recebido para que dê fruto; é uma luz que não deve
ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom mais importante que
recebemos na nossa vida e que não podemos guardar para nós mesmos.
O
anúncio faz-se caridade
«Ai
de mim, se eu não evangelizar!»: dizia o apóstolo Paulo (1 Cor 9, 16). Esta frase ressoa, com força,
aos ouvidos de cada cristão e de cada comunidade cristã em todos os
Continentes. Mesmo nas Igrejas dos territórios de missão, Igrejas em grande
parte jovens e frequentemente de recente fundação, já se tornou uma dimensão
conatural a missionariedade, apesar de elas mesmas precisarem ainda de
missionários. Muitos sacerdotes, religiosos e religiosas, de todas as partes do
mundo, numerosos leigos e até mesmo famílias inteiras deixam os seus próprios
países, as suas comunidades locais e vão para outras Igrejas testemunhar e
anunciar o Nome de Cristo, no qual encontra a salvação a humanidade. Trata-se
duma expressão de profunda comunhão, partilha e caridade entre as Igrejas, para
que cada homem possa ouvir, pela primeira vez ou de novo, o anúncio que cura e
aproximar-se dos Sacramentos, fonte da verdadeira vida.
Associadas
com este sinal sublime da fé que se transforma em caridade, estão as
Pontifícias Obras Missionárias, instrumento ao serviço da cooperação na missão
universal da Igreja no mundo, que recordo e agradeço. Através da sua acção, o
anúncio do Evangelho torna-se também intervenção a favor do próximo, justiça
para com os mais pobres, possibilidade de instrução nas aldeias mais distantes,
assistência médica em lugares remotos, emancipação da miséria, reabilitação de
quem vive marginalizado, apoio ao desenvolvimento dos povos, superação das
divisões étnicas, respeito pela vida em todas as suas fases.
Queridos
irmãos e irmãs, invoco sobre a obra de evangelização ad gentes, e de modo particular
sobre os seus obreiros, a efusão do Espírito Santo, para que a Graça de Deus a
faça avançar mais decididamente na história do mundo. Apraz-me rezar assim com
o Beato John Henry Newman: «Acompanhai, Senhor, os vossos missionários nas
terras a evangelizar, colocai as palavras certas nos seus lábios, tornai
frutuosa a sua fadiga». Que a Virgem Maria, Mãe da Igreja e Estrela da Evangelização,
acompanhe todos os missionários do Evangelho.
Vaticano,
6 de Janeiro – Solenidade da Epifania do Senhor – de 2012.
Papa Bento XVI
Fami e Paulo
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