quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Homilia do Senhor Bispo de Aveiro na Peregrinação Diocesana ao Santuário de Schoenstatt


Irmãos e Irmãs Peregrinos

1.A primeira leitura de hoje recorda-nos a alegria do regresso do antigo povo de Israel, após anos de opressão da Assíria. É a peregrinação da liberdade e da libertação.
O profeta anuncia essa libertação, refere expressamente essa liberdade e testemunha a alegria das mães e do povo humilde.
A segunda leitura vai para além da libertação dos males físicos e sociais e fala das doenças das consciências, aquilo que a Bíblia chama pecado e diz-nos que só Cristo, o redentor, pode libertar a humanidade do mal, do medo, da opressão e do pecado. Esta é a peregrinação da conversão, da misericórdia e do perdão.

2.Demoremo-nos, porém, no texto do evangelho: «No seu caminho para Jerusalém, Jesus está a percorrer a última etapa. É acompanhado pelos discípulos e por grande multidão de seguidores. Através de gestos e palavras, Jesus tinha procurado anunciar a Boa Nova e revelar a sua Pessoa. Muitos O acompanhavam mas estavam longe de realizar o convite de Jesus: «Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (8, 34).
Neste contexto a página do evangelho de hoje surge não apenas como a recordação de mais uma cura prodigiosa de Jesus mas como uma verdadeira peregrinação da vida e da missão que leva Jesus ao encontro de todos, sobretudo dos que mais precisam.
Um cego está sentado à beira do caminho, imobilizado, incapaz de viver como os outros, proibido pela lei de entrar no Templo, esperando as esmolas. Mas não está conformado… Tinha ouvido falar de Jesus e eis que ele agora passa por ali. Grita. Clama. Pede misericórdia. Consegue «ver» em Jesus, o Filho de David. Apesar de ser cego, «vê» algo que muitos não tinham visto porque «cegos» feridos de outra cegueira que os impede de ver com os olhos do coração e à luz da fé. «Chamai-o», diz Jesus aos discípulos» (P.e Franklim, Reflexão semanal – Liturgia do Domingo, Site da Diocese de Aveiro).
O homem cego, no seu desejo de mudança de vida, atira fora a capa que o aconchegava e dá um salto até Jesus. Começa a tornar-se seu discípulo. A procura da luz física na pessoa de Jesus, a quem o cego chama Mestre é também um sinal da luz que vai brilhando dentro daquele homem: «A tua fé te salvou!». Esta é a sua hora. Hora de milagre. Hora de vida. Hora de fé. Hora de caminho.

3.Marcos narra a cura do cego Bartimeu para encorajar os seus leitores a viver um processo que pode mudar as suas vidas e fazer de nós discípulos de Jesus. Não é difícil reconhecermo-nos neste cego. Vivemos tantas vezes fechados na nossa cegueira que nos impede de olhar a vida como Jesus a olhava. Estamos tantas vezes sentados à beira do caminho, imobilizados e passivos, sem forças para seguir os passos de Jesus. «Mestre que eu veja, diz o cego». Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, a sua vida transforma-se. Quando uma família recebe a luz da fé que lhe vem de Jesus, essa família transforma-se e fortalece-se no amor. Quando uma comunidade se disponibiliza para caminhar e viver a missão de Jesus, essa comunidade converte-se e renova-se. Diante deste homem que clama e procura a vida, a luz e a fé, Jesus interrompe o seu caminho e altera o seu programa. Agora, a sua missão é ouvir o clamor deste homem. É parar para o ouvir e curar. Para o acolher e integrar no número dos que O seguem. Mas Jesus ensina-nos mais: ensina-nos que ninguém pode ser seu seguidor e discípulo sem escutar aqueles que sofrem.
Não há Igreja de Jesus sem escutar os que sofrem. Eles estão no nosso caminho; pedem ajuda; necessitam de tempo; precisam de ser ouvidos; têm direito à nossa compaixão e bondade. A única postura cristã é a de Jesus diante do cego: «Que queres que te faça?». Esta deveria ser a atitude da Igreja perante o mundo dos que procuram Deus, dos que anseiam por humanidade, dos que carecem de ajuda espiritual ou material. Por aqui passa a nossa cruz. Mas aí nasce também a nossa glória e aí se encontra a nossa recompensa.

4. Estamos em Missão Jubilar. Iniciámos esta Missão com grande alegria e expressiva participação no domingo passado. O espírito de Missão, alimenta-se da Palavra de Deus, dos mistérios santos da nossa Fé e do testemunho partilhado de irmãos e irmãs mobilizados e disponíveis para a Missão. Este espírito da Missão, que é espírito de peregrinos, de missionários e de mensageiros constitui o modo de agir constante da Igreja. Este mesmo espírito de Missão inspira os caminhos e os métodos da nova evangelização, mais premente ainda nestes tempos novos que vivemos em que é necessário abri as portas da fé e ir ao encontro de todos para lhes anunciar a alegria de acreditar em Jesus Cristo. «Vive esta hora» como tempo de bênção, de alegria, de gratidão e de esperança.
5.Celebramos a nossa peregrinação, no mesmo contexto e com igual espírito de Missão Jubilar da nossa Diocese. Estamos em Missão na nossa Diocese, caros peregrinos e membros do Movimento de Schoenstatt. Estamos a viver esta peregrinação, também, quase 100 anos depois da intuição fundadora que nos vem do Padre Joseph Kentenich, ligados por esta corrente missionária e pela cruz da unidade e de olhos voltados para a Mãe Peregrina e inspirados no seu carisma fundador. Tive a alegria de estar e de rezar no mês de Setembro passado, pela primeira vez, no Santuário na Alemanha, onde nasceu o Movimento de Schoënstatt, e também na Igreja onde repousa agora o Padre José Kentenich. Agradeço a Deus essa graça e hoje neste Santuário continuemos a rezar à Mãe de Jesus e Mãe da Igreja:
Passa diante nós, Mãe Admirável, peregrina connosco na Missão Jubilar que de teu Filho recebemos para fazer irradiar por toda a nossa Diocese. Toca e aquece com o teu amor materno os corações que encontrarmos no caminho, pois tu és o astro que anuncia o sol, a estrela de todas as manhãs, a bússola que nos guia nos caminhos da fé e o farol que ilumina a nossa esperança. Passa diante de nós Mãe, coragem invencível dos discípulos de Cristo, missionários em seu nome. Aurora da Boa Nova, conduz-nos em cada dia ao teu Filho, Jesus e faz-nos suas testemunhas e mensageiros das suas bem-aventuranças”.
António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro
28 de Outubro de 2012

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